Ao fechar os olhos, o subconsciente de Rita Redshoes constrói um mundo totalmente novo. Um universo longe de seguir as regras da realidade, um lugar onde podem aparecer as personalidades mais improváveis com pedidos fora do vulgar – não tivesse o pedido de casamento de Passos Coelho sido tão comentado pelos meios de comunicação e sempre referido na apresentação deste primeiro livro da artista – e onde existe um toque de magia em todos os sonhos. Escreve a autora, no início do seu “Sonhos de uma rapariga quase normal” (Guerra & Paz, 2015): «sabem lá o que se passa dentro da minha cabeça enquanto durmo.» Sonhar é um momento íntimo, de vulnerabilidade, por não existirem segredos. Todos os cenários, personagens ou pessoas têm a permissão para entrar no enredo de um sonho, e é essa a riqueza dos quarenta sonhos escritos por Rita Redshoes.
Ao longo de pouco mais de um ano, a escritora colocou no papel a irrealidade que passa pela sua cabeça durante o sono. Há objetividade e simplicidade na escrita de Rita Redshoes, sem existir lugar a descrições extensas, mas uma capacidade para agarrar o leitor à sua história. O novo mundo da autora começa com alguns peixes e néons a tentarem saltar de um aquário, enquanto cuida de um filho de longa data, passa por alguns casórios – um deles sem aparecer o noivo – e alguns passeios por Lisboa. São pequenos episódios, relacionados com o dia-a-dia de Rita Redshoes – não estivesse a música, de várias formas e feitios, em muitos sonhos – e com conhecidas personalidades: Pedro Passos Coelho queria que ela fosse com um vestido lilás; José Rodrigues dos Santos, vestido de cardeal enquanto apresenta o telejornal, engole o seu longo cabelo louro; também o actual líder do PS, António Costa, e o presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, aparecem de rajada em sonhos da cantora.
A qualidade destes “Sonhos de uma rapariga quase normal” está no quão hilariante podem ser os cenários descritos, capazes de arrancar gargalhadas ao mais sério leitor. «E estávamos num dos corredores do convento para onde tínhamos ido estudar. Eu, mais do que com as aulas ou com a devoção, estava encantada com o meu hábito», escreve a autora qual Harry Potter, encantada no seu primeiro dia de aulas em Hogwarts. Mas, ao invés de uma escola de magia, há um convento de padres e freiras. São folheadas páginas à velocidade da luz, com o único lamento de que os sonhos de Rita Redshoes não sejam mais extensos.
Não podiam faltar, neste seu primeiro livro, dois acessórios essenciais e habituais: imagens e música. De forma a ilustrar estes sonhos, são várias as imagens construídas pela autora que acompanham a maioria dos textos e prendem o olhar do leitor. A determinada altura estes “Sonhos de uma rapariga quase normal” encaixam bem numa secção juvenil – e alguns até numa secção infantil -, não houvesse, a determinada altura, um sonho sobre uma piscina de limão para todas as famílias no Chiado.
Ideal para arrancar um sorriso no final de um dia ocupado, capaz de encantar miúdos e graúdos, o universo de Rita Redshoes ganha cada vez mais força, sendo revelado a todos os interessados em saberem mais para além da sua vida de cantora. Que cheguem mais enredos desenhados por Rita Redshoes.
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