No mundo da literatura policial, o uso de pseudónimo parece estar na moda. Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril têm espalhado a negritude por detrás da instituição Lars Kepler e, quanto à Potteriana J. K. Rowling, decidiu enveredar pelo mundo detectivesco com o masculino nome de Robert Gailbrath.
Nascido em Londres, o escritor Jamal Mahjoub tem já sete romances publicados mas, decidido a entrar no mundo da literatura policial, guardou na gaveta o seu BI e usou uma falsa identidade – Parker Bilal – para assinar as aventuras do, em tempos, inspector-chefe Makana que, exilado na capital egípcia, vai sobrevivendo na pele de detective privado.
“Sombras sobre o Cairo” (Porto Editora, 2015) decorre, como muitos livros passados neste mundo, em dois tempos distintos: em 1981, seguimos os passos de Liz Markham no seu regresso ao Cairo, cinco anos depois de ter tido um caso com um egípcio do qual resultou o nascimento de Alice, filha que desaparece da vista de Liz depois de esta cair em tentação diante de algumas linhas de pó branco; em 1998, no tempo presente da narrativa, somos apresentados a Makana, que vive num “barco” alugado – mais parecido com uma placa de contraplacado flutuante.
Decidido a escapar à morte, Makana havia deixado Cartum oito anos antes para se refugiar no Cairo, ainda que a sua vida presente não seja muito animadora: vive numa quase miséria, tem rendas em atraso, bebe borras de café e vai tentando prolongar ao máximo o tempo de espera entre cada um dos muitos cigarros que fuma diariamente. Porém, no dia em que um emissário de Saad Hanafi lhe bate à porta, Makana sabe que a sua vida está destinada a mudar para sempre, ainda que desconheça em qual das direcções.
Saad Hanafi, um multi-milionário com fortes ligações ao poder e ao mundo empresarial, é também dono de um clube de futebol. A missão de Makana, que aparentemente não tem hipótese de recusá-la, é a de encontrar Adil Romario, a estrela maior da equipa, desaparecido em condições misteriosas.
Adil Romario, curiosamente também um pseudónimo – para Adil Mohammed Adly -, andava a tentar seguir uma carreira de actor de cinema e, a contrapor ao seu lado de Don Juan, não era muito bem visto pelos seus companheiros de equipa e treinador, o que fará com que Makana tenha, desde logo, uma lista considerável de potenciais raptores/assassinos entre mãos.
Através de Makana, Parker Bilal constrói a figura de um homem nobre e destroçado, caído em desgraça depois de se ter descoberto que um grupo de radicais islamitas esteve por detrás de uma tentativa de atentado contra Mubarak, fazendo do Sudão um país de segunda categoria para os egípcios.
Com uma prosa refinada e abundante em subtilezas, Parker Bilal mostra-nos um Egipto em grande ebulição, desmontando os extremos de pobreza que conduziram à Primavera Árabe e a um país mergulhado num estado de sítio. Um bom arranque para mais uma série policial vivida fora do hemisfério nórdico.
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