Ao pegar em “Segredos de morte” (Círculo de Leitores, 2015), livro saído da imaginação de Tami Hoag, somos desde logo invadidos por uma sensação de regresso ao tempo em que as histórias policiais estavam longe do frio, pouco dadas a grandes desvios e onde, aquilo que motivava o leitor, era descobrir o assassino/culpado que, quase sempre, se escondia debaixo do seu nariz. Sensação adensada pela capa do livro, que nos olha com uns penetrantes e gélidos olhos azuis e um lettering avermelhado com ar de néon numa capa dura já pouco habitual nos dias que correm.
Não quer isto dizer que a escrita de Tami Hoag esteja pendurada num cordel ou seja desenrolada a metro. A trama oferecida neste “Segredos de morte” está bem urdida, um pouco na senda das histórias que Agatha Christie ou Ellery Queen deixaram para a posteridade: pouca parra e um número considerável de uvas.
Estamos em Oak Knoll, Califórnia, ano de 1986. Como em muitos policiais, tudo começa com a descoberta de um corpo. Marissa Forham, artista e mãe solteira, «estava caída como uma boneca de tamanho natural – destruída, rasgada, os olhos castanhos enevoados e inertes.»
Vince Leone, antigo agente especial da lendária Unidade de Ciências do Comportamento do FBI e antigo detective de homicídios de Chicago, havia viajado para Oak Knoll para recrutar o detective Tony Mendez para o FBI mas, quer pelo rebentamento do caso de um assassino em série – o caso Tem Olhos Mas Não Vê – quer pelo facto de ter conhecido Anne – sua actual mulher -, foi permanecendo sem ter em vista qualquer regresso. Será ele que a assumir a tarefa de encontrar o assassino de uma mulher que, apesar de todos saberem quem era, ninguém parecia conhecê-la realmente.
Quanto a suspeitos, a lista é infindável: Milo Bordain, mecenas de Marissa, uma mulher habituada a mandar nos outros; Zander, professor e génio que visitava Marissa a estranhas horas e sofre de sérias perturbações de humor; Sarah Morgan, a quem Marissa andava a ensinar a pintar em seda, encontrada com as mãos cheias de pensos para não se esvair em sangue; Gina Kerrer, a principal amiga de Marissa que desaparece de vista pouco tempo após a sua morte; Darren Bordain, filho de Milo, que parece conciliar um ar don juanesco com a total ausência de escrúpulos; Steve Morgan, marido de Sarah, que talvez tenha tido em Marissa mais do que um ombro amigo. E por aí em diante, numa lista que poderia bem ser de supermercado.
Com álibis entre o cimento sólido e uma palha que estremece mas não se deixa abalar pelo vento, Vince Leone parece ter uma missão muito complicada pela frente. A única solução para desvendar o assassínio poderá estar em Haley, a filha de quatro anos de Marissa que, miraculosamente, sobreviveu à carnificina e não pára de falar num mostro mau que salta dos sonhos para a perseguir. Conseguirá Vince encontrá-lo no meio de tantos segredos e mentiras, como diria Mike Leigh?
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