Criada por Bryan Lee O`Malley, Scott Pilgrim permanece, para a história impressa aos quadradinhos, como uma das mais divertidas e originais séries jamais escritas e desenhadas. Um estranho universo, povoado por adolescentes e jovens adultos, onde o amor tem de ser conquistado para ser merecido, numa batalha ganha com super-poderes e, também, puxando pelas pequenas células cinzentas – sobretudo quando o adversário é três vezes maior.
Scott Pilgrim é um jovem canadiano a rondar os 22 anos de idade, preguiçoso por natureza, anti-herói por vocação e rocker por convicção, ainda que os Sex Bob-Omb, banda onde toca baixo, não estejam propriamente conotados como banda de culto.
Quando dá de caras com Ramona Flowers, uma rapariga que trata das encomendas da Amazon, o coração de Pilgrim dá um salto mortal. O problema é que, se quiser levar o namoro a um estado sério de relacionamento, terá de lutar com os antigos namorados de Ramona, num grupo organizado conhecido como “A Liga dos Sete Ex-Namorados do Mal”.
A série foi publicada originalmente entre Agosto de 2004 e Julho de 2010, pela editora independente Oni Press, tendo em Portugal visto a luz da edição graças à Booksmile, que a lançou entre Outubro de 2010 e Novembro de 2011.
Em 2010 a série foi (muito bem) adaptada ao grande ecrã com o nome “Scott Pilgrim vs. the World” – “Scott Pilgrim Contra o Mundo” na versão portuguesa -, tendo cabido a Michael Cera desempenhar o papel de Scott. Nesse mesmo ano, Pilgrim chegava também ao mundo das consolas. Duas grandes adaptações que só deixaram ficar bem a série.
Para além de Scott Pilgrim, um rapaz com estranhos e respeitáveis super-poderes, que namora com uma adolescente do secundário e usa o cartão de crédito do amigo gay com quem divide o pequeno apartamento – e a cama – para comprar quase tudo o que precisa, há muitas outras personagens bem desenhadas por O`Malley: Ramona Flowers, que viaja através de umas estranhas auto-estradas com ares de portais mágicos para fazer as suas entregas; Wallace Wells, o amigo gay de Scott que, para além de banco, vai exercendo um papel de conselheiro; Kim Pine, ex-namorada de Scott, fria, um pouco arrogante e muito dada à experimentação; Stephen Stills, o “líder” dos Sex Bob-Omb, com alguns dotes culinários e ligeiramente mais maduro que Scott e restante comitiva; Knives Chau, a chinesa adolescente com que Scott trava uma breve relação de namoro, e que irá partir para uma demanda de vingança até matar todas as suas namoradas ou, em alternativa, colar todos os fragmentos de um coração partido; Neil Nordegraf, o único fã dos Sex Bob-Omb até a chegada de Knives – com quem tinha tido um caso antes de se deixarem de falar; Stacey Pilgrim, a irmã mais nova e protectora de Scott.
Reza a história que Bryan O`Malley se inspirou na personagem de Scott depois de ouvir “Scott Pilgrim”, um tema da banda canadiana Plumtree, mas talvez a maior influência visual provenha da manga japonesa, algo que é notório durante cada um dos seis livros da série – sobretudo nas cenas de batalha -, até mesmo pela escolha dos desenhos a preto e branco.
Porém, independentemente do ângulo escolhido para o observar, Scott Pilgrim é uma personagem de contornos épicos. Ao longo dos seis volumes é um deleite acompanhar a sua evolução enquanto personagem – ainda que essa retrato não se aventure nunca a grande profundidade – mas, também, a evolução do próprio O´Malley, que vai aprimorando detalhes sobretudo ao nível da ilustração. Mas um dos grandes méritos é, também, a sustentação da história por parte de personagens secundárias, como Wallace, Stills ou Ramona, e sobretudo a inclusão da Liga de Ex-Namorados, que leva este romance indie aos quadradinhos para uma dimensão nunca antes vista na banda desenhada.
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