Ainda que haja neste planeta quase tantos ilustradores quantas as estrelas num céu negro em noite de lua ausente e propícia à observação astronómica, não será demais afirmar que Oliver Jeffers será, de entre os muitos pontos cintilantes, a Sirius da ilustração.
Nascido na Austrália no ano de 1982 – e criado na Irlanda do Norte desde muito cedo -, pode dizer-se que Oliver Jeffers tem tido uma carreira verdadeiramente meteórica, não apenas pelos inúmeros prémios conquistados – ainda recentemente venceu o pelas ilustrações do livro “O dia em que os lápis desistiram” – como, sobretudo, pela diversidade temática e as variações que tem promovido em termos de técnicas de ilustração, além de ser também o autor dos textos de muitos dos seus livros.
Em “Este alce é meu”, por exemplo, pegou em pinturas da autoria de Alexander Dzigurski – majestosas paisagens de cortar a respiração -, acrescentando-lhes as suas cativantes ilustrações para atingir a perfeição ao aliar uma tremenda inventividade com o ar de traço inacabado com que alguns dos desenhos pareciam estar impressos. A juntar à invenção do incrível rapaz que comia livros ou a um conjunto de lápis que decide saltar da caixa – excepto o lápis cor de pele – para reivindicar os seus direitos, será mais do que suficiente para falar de Jeffers como um artista de corpo inteiro, e não apenas um mero ilustrador.
Em Portugal pode dizer-se que a casa de férias de Jeffers tem sido a Orfeu Negro, editora que, depois de publicar oito livros com a assinatura do australiano, lança agora o primeiro título – na edição e cronologia portuguesa – de uma nova série escrita e ilustrada por si: “Os Nicos em Não Fui Eu” (Orfeu Negro, 2015).
Os Nicos têm a forma de um ovo ou, se preferirmos um exemplo mais adocicado – e internacional -, de jelly beans. São muito parecidos entre si e, na maioria das vezes, dão-se bem. Pelo menos até ao dia em que Crispim, o Nico alaranjado, os encontra numa discussão verdadeiramente acalorada, num dia que na história dos Nicos ficará conhecido como a Grande Discussão.
Quando Nico lhes pergunta por que razão estão a discutir as coisas ficam ainda piores, trocando-se acusações sobre quem terá começado a gritaria e apontando-se o dedo a exigir que o culpado se chegue à frente. Até que o mais lúcido Crispim tem uma ideia genial que, estranhamente, tem origem numa mosca morta.
Oliver Jeffers dispõe os Nicos – e as suas sombras – em fundos brancos ou monocromáticos onde, a certa altura, aparecem isentos de cor, sobretudo quando as emoções tocam em pontos extremos.
Os balões de diálogo descrevem toda a zanga, em explosões de cor e objectos que incluem criaturas voadoras, figuras geométricas, pequenas caveiras ou nuvens zangadas, com as frases a serem escritas à mão, uma característica dos livros assinados por Oliver Jeffers.
Neste livro que marca o início de uma nova série, Jeffers mostra-nos o absurdo que muitas vezes nos lança em discussões intermináveis, onde o conteúdo e a semente da discórdia se esbatem até à quase amnésia, sendo necessário uma mosca morta para nos trazer de volta à realidade e ao que é verdadeiramente importante. Venha de lá o próximo.
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