Tunisino nascido em 1943, no auge da Segunda Guerra Mundial, Philippe Aziz – cujo verdadeiro nome é Aziz Mahjoub – dedicou parte da vida a estudar a História Universal, com especial enfoque nos impérios Inca, Asteca e do Antigo Egito, bem como à História do Islão ou à Revolução Francesa.
Nado e criado no seio de uma família muçulmana Aziz formou-se em Islamologia, mas foi o seu percurso enquanto jornalista e escritor que o colocou na órbita dos mais atentos no que toca à análise da História Contemporânea e, principalmente, ao período entre 1939 e 1945.
Fruto de muita dedicação a essa negra fase do calendário da Humanidade, Aziz investigou com particular afinco a macabra filosofia utilizada pelos médicos nazis nos campos de concentração.
À boleia do lunático desvario de Adolf Hitler na tentativa de demonstrar e elevar a superioridade da raça ariana, foram realizadas inúmeras, desumanas e macabras experiências cujas práticas passavam, por exemplo, pela incineração, o castramento e a sufocação de homens, mulheres e crianças que serviram de cobaias para o Terceiro Reich.
Um dos relatos maiores dessa monstruosidade (des)humana, “Os Médicos da Morte” (Saída de Emergência, 2015) assume-se como um poderoso documento que retrata, de forma exemplar, clara e assustadoramente real, os horrores da medicina nazi.
Tendo por base testemunhos de sobreviventes, confissões de médicos SS e milhares de documentos que os nazis não conseguiram destruir antes da derrota final, esta obra fundamental de Aziz permite-nos avaliar o sofrimento de milhares de crianças, deficientes, homossexuais, ciganos, judeus e até alemães dissidentes que não tiveram outra escolha senão o papel de mártires sob a égide de um repugnante delírio científico.
Dividido em quatro partes e com mais de 800 páginas, “Os Médicos da Morte” mergulha o leitor numa viagem negra que revela o pior do ser humano, que encontra eco em nomes como Josef Mengele, Horst Schumann ou Eduard Wirths, autênticos anjos da morte que ordenaram o envio de milhares de presos dos campos de Auschwitz para, por exemplo, câmaras de baixa pressão onde as vítimas eram testadas com drogas e venenos, esterilizadas, congeladas até à morte.
A par disso, foram realizadas “experiências em gémeos para estudar a genética e semelhança biológica, organizados banhos prolongados de água gelada a fim de se descobrir o tratamento para a hipotermia ou testes com malária, gás mostarda, tifo, venenos, variados vírus e germes para se chegar a antídotos ou curas ou estudar o desenvolvimento das doenças como potenciais armas biológicas.”
A maldade não tem limites e “esterilizaram-se milhares de pessoas através de radiação para se descobrir o método mais eficaz de inutilizar a capacidade reprodutiva daqueles que eram considerados defectivos em relação ao ideal da raça ariana; procurou-se saber se era possível tornar a água do mar potável, matando centenas de pessoas de desidratação; fizeram-se transfusões e transplantações sem anestesia. Muitos morreram de dores agonizantes ou insanidade.” Em nome da justificação biológica e científica da superioridade da raça ariana.
Muito do que foram os seis anos de maquiavelismos nazis que se perpetuaram para a eternidade estão registados em “Os Médicos da Morte”, um impressionante trabalho originalmente editado na década de 1970 que é sinónimo de uma competente análise histórica e que não deixará ninguém indiferente. Para ler sob uma perspetiva enciclopédica, este é um dos títulos mais impressionantes sobre a máquina científica nazi e aquilo que se pode fazer em nome de uma ideologia oca e cega.
3 Commentários
Ola,
não acho para comprar este livro. Sabe onde posso conseguir?
obrigada
http://www.livrariacultura.com.br/
Obrigada pela descrição.