Em algumas culturas nativas com orientações xamânicas, não seria de estranhar que alguém, às portas de tomar uma decisão nevrálgica para a vida, fosse mandado para o deserto ou para a floresta carregado de substâncias psicotrópicas, à espera que a iluminação chegasse com clareza e de mansinho.
Em “Odd e os gigantes de gelo” (Editorial Presença, 2014), Neil Gaiman envia a personagem central para o meio de um incessante nevão, ainda que as substâncias psicotrópicas não lhe tenham sido disponibilizadas. De qualquer forma, o fim da jornada permanece intacto: descobrir por que razão o inverno não tem fim e, com isso, trazer de volta a Primavera.
Gaiman transporta-nos até uma antiga aldeia viking situada na Noruega, onde um rapaz chamado Odd parece ter a fortuna de costas voltadas para si. O pai morrera há alguns anos e, quanto à mãe, voltara a casar com um homem que tinha já sete filhos. Para complicar o cenário, um acidente com uma árvore quase lhe esmagara uma perna, passando a ter de andar com a ajuda de uma muleta.
Quando o Inverno se prolonga ao ponto de provocar uma irreparável irritação em todos os habitantes da aldeia, Odd decide fugir de casa e instalar-se numa cabana que o pai ali havia construído. Porém, quando dá de caras com um urso, uma águia e uma raposa falantes, a sua sorte – ou azar – será testada ao ponto máximo, quando estes lhe contam a razão de o Inverno não ter fim. Terá Odd a força suficiente para resgatar o bom tempo?
Pequena fábula sobre o crescimento – com ilustrações de Brett Helquist -, “Odd e os gigantes de gelo” apresenta-nos uma história de auto-descoberta, de um rapaz que aprende a viver com as suas limitações físicas reencontrando-se a si próprio e ao mundo que havia deixado para trás.
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