Para muitos daqueles que leram “O império final” – ler crítica aqui -, mesmo os que acenderam uma vela em jeito de prece depois de virada a última página, seria difícil acreditar que o segundo livro da saga Mistborn – Nascida nas Brumas poderia chegar aos seus calcanhares. Pois bem, a verdade é que Brandon Sanderson repetiu a gracinha: “O Poço da Ascensão” (Saída de Emergência, 2015) está no mesmo patamar de excelência que o seu antecessor, oferecendo um novo festim de fantasia sem cair na repetição de uma fórmula de sucesso, mostrando agora todas as tonalidades de que são feitas as brumas.
A história tem início um ano após a queda do Império, um regime que vivia com base numa clara definição de castas e da imposição da escravatura. A vida não está, porém, a ser fácil para Elend Venture, o actual rei, que tenta fazer com que todos participem do processo democrático e da construção de um novo e mais justo mundo. Ao mesmo tempo que tenta fazer de Luthadel uma democracia, três exércitos cercam a cidade para a saquear, motivados pelas reservas de átio – a substância primordial da alomância – que se diz estarem escondidas no coração da cidade: o de Straff Venture, pai de Elend, composto por mais de 50000 homens; o de Cett, um hábil estratega que espera apenas o momento certo para tomar o poder; e um temível exército de colossos, liderados por Jastes Lekal – ou Rei Lekal.
Quanto a Vin, a jovem Senhora das Brumas que descobriu recentemente conseguir perfurar nuvens-de-cobre – o que lhe permite detectar os alomantes que queimam metais dentro delas -, sente-se desconfortável com todo o peso que carrega sobre os ombros, ao mesmo tempo incerta sobre se o seu amor por Elend não será apenas uma ilusão, um laço que a vai prendendo a um mundo ao qual não pertence.
Enquanto o cerco aperta, parece que resta apenas uma lenda para conferir alguma esperança a Elend e a todos os que defendem Luthadel de um banho de sangue iminente: o Poço da Ascensão; que, para além de ninguém conhecer ao certo a sua localização – ou sequer se existe -, não se sabe também que poder poderá conter nas suas águas. Será Vin o Herói das Eras de que fala a antiga profecia?
À semelhança do que aconteceu com o primeiro livro, cada capítulo termina com um fragmento de texto, agora retirado do diário de Kwaan, um «filósofo, erudito, traidor», aquele que descobriu Alendi e o proclamou Herói das Eras. E, lê-se em jeito de confissão, aquele que acabou por o trair.
Uma vez mais Sanderson monta uma galeria de personagens incríveis, cheios de substância, tais como: Oreseus, o kandra que consegue assumir qualquer corpo depois de lhe comer os ossos; Sazed, um guardião que guarda em si todo o saber do mundo; Tindwyl, a guardiã de Terris que quer ensinar Elend a comportar-se como um rei.
Com muitas reviravoltas e surpresas, “O Poço da Ascensão” é um épico de todo o tamanho que, para além de cimentar Vin como uma das mais interessantes personagens adolescentes – ou lá perto – do domínio da fantasia, nos mostra o mundo das brumas como um reflexo do nosso próprio planeta, construído com base em jogos de poder e alianças por conveniência. Mas, também, com uma boa dose de amor e harmonia. Ainda 2015 está no seu início e já temos aqui um sério candidato a livro do ano, com inclinação fantástica e edição nacional.
4 Commentários
[…] O Poço da Ascenção – Brandon Sanderson – Deus me […]
As capas, tanto de O Império Final, quanto de O Poço da Ascensão são infinitamente mais bonitas do que as das versões brasileiras da Editora Leya. Não vejo a hora de poder dar sequência a essa leitura. Brandon Sanderson foi uma surpresa grata para mim, que nunca havia ouvido falar do autor.
Concordo em absoluto, para quem gosta de fantasia são do melhor que se pode encontrar por aí.
Eu já acho as capas do Simonetti mais bonitas que as originais.