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O Endurance, Planeta, Caroline Alexander
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“O Endurance” | Caroline Alexander

Por Pedro Miguel Silva · Em 26/01/2015

Em Agosto de 1914, no ocaso da era heróica da exploração e no eclodir da Primeira Grande Guerra, Ernest Schackleton, acompanhado por 27 homens, decidiu reclamar para si o último prémio da história da exploração polar: a travessia a pé do continente antárctico, desde o mar de Weddell até ao mar de Ross.

Schacleton não era, refira-se, um novato nestas andanças, tendo anteriormente – e por duas vezes – tentado ser o primeiro homem a chegar ao Pólo Sul: na primeira, na companhia do Capitão Falcon Scott – que mais tarde perderia a corrida (e a vida) para os noruegueses -, entrou em colisão com o estilo austero deste, ficando ambos longe do objectivo traçado – muito por culpa da má preparação logística e física que rodeou a expedição; na segunda, apesar de ter repetido os erros e a má planificação, aumentou o recorde de Scott em 600 quilómetros para sul, sendo recebido em apoteose em Inglaterra apesar da missão ter fracassado.

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Com trabalhos publicados nas revistas The New Yorker, Granta, Condé Nast Traveller, Smithsonian, Outside e National Geographic, Caroline Alexander é também autora de “One Dry Season”, “The way to Xanadu”, “Battle`s end” e “Mr. Chippy`s last expedition”. A sua ligação a Shackleton não é de agora, tendo sido a curadora da exposição Endurance: a lendária expedição de Shackleton, que percorreu os Estados Unidos da América.

Em “O Endurance” (Planeta, 2015) – com o sub-título “Encurralados no gelo” -, Caroline dá-nos um relato fascinante da expedição de Shackleton, que entrou para a história como um dos maiores épicos de sobrevivência. Paralelamente ao relato de Caroline, o livro apresenta o trabalho fotográfico – e pioneiro – de Frank Hurley, o fotógrafo australiano que integrou a expedição – falhada, uma vez mais – de Shackleton, trabalho que nunca havia sido antes publicado na íntegra.

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Mesmo repetindo alguns dos erros das anteriores expedições – o seu único treinador e condutor experiente desistiu pouco tempo antes devido a questões contratuais, apenas um dos homens da comitiva sabia esquiar, não levou comprimidos anti-parasitários para os cães -, Shackleton operou algumas melhorias: tinha um segundo-comandante que sabia esquiar, fez algumas consultas com nutricionistas, seguiu conselhos dos mais experientes exploradores noruegueses, que o convenceram a levar mais de seis dezenas de cães. Fundou também a Trans-Antarctic Film Syndicate, de modo a explorar todos os direitos cinematográficos relativos à expedição, vendendo o exclusivo da história ao Daily Chronicle.

Inicialmente baptizado de Polaris, o Endurance – Shackleton rebaptizou-o a partir de um lema de família: fortitudine vincimus, ou, pela resistência venceremos – era um bergantim de 300 toneladas, comprados aos famosos estaleiros noruegueses Framnaes. A maior parte do financiamento veio do governo britânico, assim como de Sir James Key Caird, um escocês rico fabricante de suta (que entrou com 24 mil libras).

O Endurance, Planeta, Caroline AlexanderPortador de um inabalável optimismo, o Endurance partiu de Inglaterra no dia 8 de Agosto de 1914, navegando até ficar preso no gelo a 160 quilómetros do seu objectivo. Em breve seria esmagado como uma caixa de fósforos, deixando a tripulação a flutuar na superfície de placas geladas. A provação de Shackleton e dos seus homens estendeu-se durante 20 meses e, entre duas tentativas quase fatais por barco e muitos acessos de loucura, conseguiram ser resgatados sem uma única perda humana.

Apesar de uma vez mais ter fracassado na sua missão inicial de percorrer a pé a Antárctida, Shackleton levou a bom porto a missão hercúlea de salvamento e, paralelamente, de manter a tripulação unida na desgraça, mostrando-se como um líder que, mais do que a glória, soube dar valor à vida humana. Um documento histórico extraordinário sobre um dos mais primários e fascinantes instintos humanos: a sobrevivência.

Caroline AlexanderO EndurancePlaneta

Pedro Miguel Silva

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