No título original, “The Devil in the White City: Murder, Magic, and Madness at the Fair that Changed America”, poder-se-à entender melhor a abrangência de “O demónio na cidade branca” (Bertrand Editora, 2014), o livro de Erik Larson que, mais do que uma obra de ficção, representa um reencontro com factos reais, ocorridos próximos do ano de 1893, altura em que teve lugar a Feira Mundial de Chicago.
Originalmente lançado nos Estados Unidos em 2002, o livro viria a conquistar inúmeros prémios nos anos seguintes, entre eles o de best-seller do famigerado The New York Times. Se isto por si só poderia já ser factor encorajador à leitura destas 478 páginas (bibliografia incluída), o seu conteúdo torna-o ainda mais valioso, quer para apreciadores da história pura, quer para quem simplesmente procura o prazer duma simples novela, repleta de conteúdo rico e personagens apaixonantes.
Perde-se a noção do real enquanto se penetra na densidade enorme de Dr. Holmes ou na vida intensa do arquitecto Daniel Burnham, dois homens que deixaram a sua marca no tempo pela grandiosidade do que conseguiram fazer, de bom e de mau. É precisamente nesse antagonismo permanente que E.Larson vai construindo, passo-a-passo, um fio condutor entre coisas tão díspares como a planificação gigantesca duma cidade edificada de raiz e a morte de centenas de pessoas, levada a cabo pelas mãos de um só homem.
Enquanto um erigia uma catedral do mal, outro não olhava a meios para fazer da feira de Chicago o evento mais importante do seu tempo, numa altura em que a torre de Eiffel havia colocado Paris no centro do mundo pela sua enormidade arquitectónica.
Combinando a pesquisa meticulosa com a capacidade nata para contar uma história, Erik Larson conseguiu absorver os factos e construir, também ele, uma narrativa de encanto, sublimada pela realidade adjacente aos factos que a originam.
É uma viagem ao lado de demónios magníficos, do mal mais poderoso e da sua forma mais bestial, mas também da força e dedicação pessoal, da paixão. Coisas que são parte de todos nós, homens e mulheres comuns, mas que poucos conseguem exacerbar ao ponto de as fazer entrar nos livros de história.
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