Neste 12º volume de “Naruto” (Devir, 2015), dá-se início à terceira fase do exame Chunin, fase muito aguardada pelos leitores, principalmente depois das habilidades demonstradas anteriormente pelos participantes.
O primeiro combate, que opõe Hyūga Neji a Uzumaki Naruto, reúne logo uma carga emocional muito especial, ao tornar-se mais do que um confronto físico – antes um confronto de ideais. De um lado, Neji simboliza o talento natural, tendo nascido com uma grande aptidão para as artes marciais, sendo já considerado, pela maioria, como o jovem ninja mais talentoso de Konohagakure; do outro temos Naruto, a simbolizar a força de vontade, aquele que acredita que através do esforço pode alcançar os seus sonhos. Desta forma, Neji contra Naruto poderia muito bem intitular-se Destino vs Vontade. A acrescentar ainda mais tensão ao combate temos o facto de Naruto desprezar a arrogância de Neji, o qual havia humilhado, no exame anterior, a sua amiga Hinata.
Como é habitual na história, ao longo do combate o autor aproveita para introduzir elementos do passado de determinadas personagens, a fim de compreendermos os seus motivos, ao mesmo tempo que assistimos à revelação das suas técnicas ninja. Desta forma, Naruto vai percebendo, em primeira mão, as razões que conduziram aos valores actuais de Neji, os quais estão enraizados nas tradições do clã Hyūga.
Antes do volume terminar somos ainda brindados com o combate de Shikamaru, uma personagem que, tal como Naruto, tem muito mais para dar do que aparenta à primeira vista. No entanto, as semelhanças entre estes dois começam e terminam aqui, uma vez que o grande trunfo de Naruto será sempre o seu coração, ao contrário de Shikamaru que privilegia a razão. Este jovem ninja troca a emoção pela lógica em qualquer dia, provando-se cada vez mais como o grande estratega deste grupo de Chunin’s. Resta saber se o seu génio será suficiente para superar a sua preguiça neste confronto contra Temari, da aldeia do vento.
“Naruto” segue na tradição de séries como “Dragon Ball” ou “Rurouni Kenshin”, tanto na estrutura como na popularidade – é o terceiro mangá mais comercializado no mundo, com vendas superiores a 220 milhões de exemplares. Em termos de construção, o próprio protagonista tem muito do saudoso Son Goku, tratando-se do herói inocente, divertido e carregado de potencial. À semelhança de Goku, também o coração puro de Uzumaki Naruto tem a capacidade de mudar vontades, de transformar vilões em heróis, e isso sente-se muito ao longo das várias aventuras desta personagem. Ninguém que combata contra Naruto lhe fica indiferente, saiam vencedores ou derrotados, e isso é uma força que o distingue de todas as restantes personagens desta série.
Onde Masashi Kishimoto se terá destacado mais nesta criação foi na forma como explorou o ninjútsu enquanto arte de combate, acrescentando-lhe uma série de particularidades fantasiosas que tornaram estas lutas em algo singular. Quanto mais mergulhamos no universo de “Naruto” mais comprovamos que a imaginação do autor é o único factor limitante nas técnicas de combate destes ninjas.
Tratando-se de uma banda desenhada que vive, na sua maior parte, da descrição de confrontos físicos, é importante haver um bom domínio das ferramentas que criam a ilusão de movimento num desenho. Kishimoto mostra possuir essas habilidades conseguindo, também, alternar entre história e combate de forma dinâmica e justificada. Tudo aqui flui a um ritmo alucinante, deixando-nos, em poucos minutos, a ansiar pela próxima aventura. E, numa série do género de “Naruto”, é tudo aquilo que poderíamos desejar.
Sem Comentários