Faltam apenas algumas semanas para o começo das desejadas aulas mas, para Harry Potter, cada dia tem a duração mental de um ano. Para adensar ainda mais um estado a piscar o olho à depressão, Harry recebe a notícia da vinda da detestável tia Marge, que chegará precisamente no dia do seu 12º aniversário.
A poucos minutos do relógio bater a meia-noite, Hedwig – a sua fiel companheira – e um outro trio de corujas surpreendem-no com a entrega de três embrulhos que, para além de cartas de saudades e felicitações, lhe trazem três fantásticos presentes, insuflando a escassa esperança que mantém sempre em relação aos aniversários: um avioscópio – se houver alguém por perto ele acende-se e gira -, um kit para tratar de vassouras e “O monstruoso livro dos monstros”, que chega preso por fortes correias para não morder ninguém.
Na manhã seguinte, quando entra na cozinha e encontra os Dursley a tomar o pequeno-almoço, a televisão anuncia a fuga do presidiário Sirius Black, que está armado e é extremamente perigoso. O que os muggles não sabem é que Sirius Black é olhado no mundo da feitiçaria como um dos grandes apoiantes de Quem-nós-sabemos, e que uma fuga de Azkaban representa um feito ainda maior do que todos os truques e ilusões do mestre Houdini.
Incapaz de armazenar todas as palavras depreciativas que a tia Marge lhe lança, Harry faz aquilo que um feiticeiro está proibido de fazer no mundo dos muggles – e logo para fins puramente recreativos: magia. De repente, a tia fica gorda, flácida e com o rosto arroxeado, além de revelar um pequeno bigode à medida que vai enchendo como um balão. Harry faz a mala em três tempos e abandona a casa dos tios, enfrentando a escuridão tranquila da rua sem ter uma pequena ideia de como conseguirá chegar a Hogwarts. Até que se vê salvo pelo Autocarro Cavaleiro, o transporte de emergência para feiticeiros e feiticeiras em apuros.
Apanhado com a boca a botija por Cornelius Fudge, o Ministro da Magia, Harry pensa ter ganho a ordem de expulsão de Hogwarts mas, em vez disso, recebe uma palmadinha compreensiva no ombro e a indicação de que irá passar o resto das suas férias num muito bem equipado quarto individual do Caldeirão Escoante, podendo comprar tranquilamente todo o material para o 3º ano e desfrutar do clima de Diagon-Al, o Freeport dos feiticeiros.
O que Harry ainda não sabe é que, durante o sono, Sirius Black não se cansava de repetir “ele está em Hogwarts…ele está em Hogwarts” e que, esse “ele”, se referirá, provavelmente, a ele próprio, o que irá transformar Hogwarts numa caixa-forte guardada por Dementors, os guardas de Azkaban que têm o poder de sugar toda a felicidade e alegria de quem está por perto.
Em “Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban” (Editorial Presença, 2014), as perguntas sem resposta imediata são muitas: quem é, afinal, Sirius Black? Por que razão os Dementors têm um efeito tão devastador em Harry? Haverá um traidor escondido em Hogwarts?
Este terceiro livro é um dos mais entusiasmantes da saga, oferecendo, para lá do habitual festim de fantasia, uma viagem paralela no tempo, bem como a revelação de muito do passado familiar de Harry. Apesar de Potter – e do próprio leitor – por esta altura conhecer já quase todos os cantos à casa, as surpresas e os motivos de interesse são muitos: a flecha de fogo, a vassoura protótipo mais rápida do mundo; os presságios de morte e as previsões negras de Sybil Trelawney, a professora de Adivinhação; os sem-forma, que gostam da escuridão, dos espaços apertados, dos espaços entre as camas e dos armários debaixo dos lava-louças; Hogsmead, a única vila só de feiticeiros do mundo; Lupin, o novo professor de Defesa Contra as Artes Negras, um daqueles professores que ficam na memória dos seus alunos – e só por bons motivos; e quidditch, muito quidditch, esse deporto maior dos feiticeiros que arrasta multidões e sobretudo vassouras. Será desta Gryffindor?
Outros textos da série:
“Harry Potter e a pedra filosofal”
“Harry Potter e a câmara dos segredos”
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