“Terminei a tradução de Hamlet há muitos anos e várias vezes a revi e corrigi. (…) Não creio que Hamlet possa ser traduzido de uma ponta à outra em prosa. O contraponto entre a prosa e o verso faz parte da estrutura da peça, do jogo do poeta, da eficácia teatral, do relevo e sentido de cada cena. Por isso apenas traduzi como prosa aquilo que no original prosa era. (…) Tentei, quanto possível, traduzir rente ao texto, ser fiel à riqueza e à densidade de cada frase e encontrar uma linguagem que seja a do teatro.”
As palavras acima transcritas são de Sophia de Mello Breyner Andresen, que aceitou a missão de traduzir o clássico “Hamlet” (Assírio & Alvim, 2015), de William Shakespeare, algo que a ocupou durante quase toda a sua vida. Uma tradução que, ainda que almeje estar o mais possível perto do original e do seu apelo teatral, acaba por ganhar um cunho muito pessoal de Sophia, oferecendo ao leitor uma tradução de Hamlet que quase parece uma nova e mais refinada peça, e onde o português quase chega a parecer a língua mãe e original da peça.
No prefácio a este edição bilingue, Luis Miguel Cintra diz sobre a tradução de Sophia: “No Hamlet (e a tradução de Sophia torna-o transparente), a progressão da peça segue o processo de amadurecimento do pensamento de uma personagem que à partida é um jovem, um jovem príncipe. As suas descobertas são ainda pueris. Acaba quando percebe o que é o tempo e a morte e a responsabilidade individual, sempre perturbado com a confusão dessa responsabilidade com qualquer coisa que se lhe opõe: o poder. Aí a sua reflexão torna-o adulto, torna-o exemplar, torna-o simbólico”.
Escrita entre 1599 e 1601, “Hamlet” é uma tragédia situada na Dinamarca, que conta a história de como o Príncipe Hamlet tenta vingar a morte de seu pai – também ele Hamlet, o rei – que descobre ter sido executado por Cláudio, o seu tio – e irmão do rei -, que o envenenou para de seguida tomar o poder e casar com a sua mãe. Para revelar o crime hediondo a todo o reino, o Príncipe Hamlet irá embarcar num caminho entre a loucura real e fingida, sendo esta uma história onde cabem a traição, a vingança, o incesto, a corrupção e a moralidade. Uma obra perfeita e universal, para ler ou reler nesta fantástica tradução de Sophia de Mello Breynner Andresen.
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