São muitas as vozes que falam de Raphael Montes como a nova estrela da literatura policial brasileira, um advogado e escritor nascido no Rio de Janeiro em 1990 que, aos vinte anos, se estreou como o livro “Suicidas”, com o qual levou para casa prémios como o Benvirá de Literatura 2010, Machado de Assis 2012 da Biblioteca Nacional ou São Paulo de Literatura 2013.
Já com adaptação cinematográfica garantida, “Dias Perfeitos” (Companhia das Letras, 2015) tem como protagonista Téo, um rapaz de 23 anos que estuda medicina, é vegetariano e não possui qualquer habilidade social ou relacional. Solitário e introvertido, Téo vive e toma conta da mãe, paraplégica, nos intervalos das aulas de anatomia onde se diverte a dissecar cadáveres.
Um dia, vencido pela insistência da mãe, aceita ir a um churrasco onde conhece Clarice, uma bonita jovem que bebe e fuma bastante, “trepa” de quando em vez e estuda História da Arte, para além de estar a escrever um guião para cinema com o título Dias Perfeitos. A partir de então, onde antes havia timidez, surge em Téo uma convicção inabalável, situada entre a loucura e a obsessão, que transforma Clarice numa boneca humanamente insuflável. E que levará o leitor numa viagem tremendamente noir até um desfecho mais ou menos esperado.
Raphael Montes gira em volta da síndrome de Estocolmo e do espírito desenhado em American Psycho, mas fica-se um pouco longe da reciprocidade emocional que vem do frio e, quanto à personagem de Téo, está a milhas da subtileza, estilo e demência mostrados por Patrick Bateman no romance de Bret Easton Ellis – e, sobretudo, na adaptação cinéfila levada a cabo por Mary Harron, onde brilhou Christian Bale. Muito noir e pouca uva num livro que, a espaços, transforma a perversidade em puro mau gosto.
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