Herdeiro de uma das mais distintas e aristocráticas famílias inglesas, Aldous Huxley foi um dos mais proeminentes autores do século XX e a obra “Admirável Mundo Novo”, escrita do raiar da década de 1930, tornou-se num incontornável título no que toca a uma particular leitura da estratificação de uma sociedade marcada pelos condicionalismos biológicos e psicológicos, para além do desprezo face a valores morais e éticas religiosas.
Huxley estreou-se no mundo da escrita em 1921 com “Limbo”, uma colecção de contos que antecederam uma fase mais dedicada ao formato romance, expressão literária que mais marcou o seu currículo literário – com excepção de alguns ensaios que encontraram particular eco nos seus últimos trabalhos.
Para além da literatura, Aldous Huxley ficou famoso pelo seu percurso enquanto guionista de Hollywood, experiência essa que apenas encontrou paralelo de excitação para o inglês nas figuras da mescalina e, mais tarde, do LSD.
A sua irreverência e conduta contra-cultura tornaram-no num dos expoentes da cultura hippie e nomes incontornáveis da música, como os Doors ou os Beatles, deixaram-se guiar pelas palavras revolucionárias de Huxley que se tornou em uma espécie de porta-estandarte para as gerações que lutavam contra o autoritarismo do Estado e afirmavam a liberdade individual como um lema e forma de vida.
Apesar desta exposição que transponha fronteiras, Huxley nunca esqueceu a sua Inglaterra natal, tema recorrente nas suas primeiras experiências adultas em prosa. Através de uma literatura que fundia aspetos mundanos e humanos com elevadas doses de hiperbolizações cómicas e aberrantes, o autor natural de Godalming, sudeste de Inglaterra, mostrava uma especial mestria para o formato conto.
Exemplo desse talento visionário é “Contos Reunidos” (Antígona, 2014), uma antologia que reúne 21 contos recheados de personagens cujos perfis mesclam a ironia involuntária com um sentimento trágico que os (re)posiciona num universo marcado por contornos que roçam uma realidade turva e em constante dilema sobre a crescente decadência de uma linhagem intelectual, onde o próprio autor fazia questão de inscrever o seu nome.
Ainda assim, o autor de “Contos Reunidos” é um jovem prodígio intelectual que optou, sem qualquer tipo de remorsos, pelo lado subversivo, por uma marginalidade latente mas consistentemente apoiada em pressupostos que suportavam uma edificação mental que questionava a cultura, os seus usos e devaneios.
Para a história, ficam contos como “O Sorriso de Gioconda”, Pequeno Mexicano” e “Chawdron”, que confirmam a capacidade inata de Huxley em abordagens breves no campo da literatura. Injustamente obscurecidos e “ignorados” – comparativamente com outras obras do autor -, estes fragmentos irónicos e deveras espirituosos mostram o veneno das satíricas palavras de uma mente multifacetada.
Se dúvidas existissem sobre a capacidade versátil do seu intelecto, Aldous Huxley prova que estes contos podem assumir-se como poderosos exercícios de observação (efabulada e ficcionada), que trazem ao palco principal personagens anões, póneis pigmeus ou conquistadores canalhas e de má rés que convivem num oceano de críticas e farpas sociais, trazendo à tona as fraquezas e as virtudes do Homem.
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