Nascido em 1902 em Itabira, no Brasil, Carlos Drummond de Andrade é considerado um dos mais – senão o mais – influentes poetas brasileiros do século XX. A sua estreia na literatura deu-se em 1930, com a publicação de “Alguma poesia”, a que se seguiram, até à sua morte em 1987, títulos como “Sentimento do Mundo (1940), “A Rosa do Povo” (1945) ou “Novos Poemas” (1948), apenas para nomear alguns.
Em 1951, no entanto, o escritor brasileiro arriscou a sua primeira incursão no universo da prosa ficcionada, com a edição de “Contos de Aprendiz” (Companhia das Letras, 2015). Um livro de “contos menores do nosso poeta maior” – como se lê no posfácio -, que revelam alguns dos temas e motivações presentes no âmago da obra de Carlos Drummond de Andrade: o âmago e o apelo da infância, a mudança de cenário do interior para a capital, o ouvido bem aberto para a conversa alheia.
Entre os muitos relatos, “Contos de Aprendiz” reserva alguns contos entusiasmantes: em “O sorvete” sentimos na pele a incultura, quando dois rapazes do campo se desiludem ao experimentar, à dentada, um sorvete de abacaxi num requintado templo conhecido como Confeitaria; “A doida” é uma fantástica história sobre a procriação do mal, que vai saltando de geração em geração até transformar o desejo de reparação em algo não concretizável; “Beira-Rio” pode ler-se como um conto contestatário, onde são abordados os temas do racismo e do autoritarismo, numa vila “onde há dez refrigeradores e não há esgotos; muitos meninos e nenhuma escola“; “Flor, telefone, moça” pisca o olho ao sobrenatural: uma moça recebe um telefonema do além a exigir de volta a flor roubada no cemitério; ou “O gerente”, porventura o conto maior do livro, onde acompanhamos as deambulações, a ascensão, a queda e novamente a ascensão de “um homem que comia dedos de senhoras; não de senhoritas” e que, nos corredores onde se trocam segredos, ficou conhecido como o vampiro dos salões.
Sensibilidade apurada, preocupação social, humor de laçarote e uma acentuada melancolia, traços marcantes da poesia de Carlos Drummond de Andrade que encontram eco nestes pedaços de prosa a que chamamos contos. Uma porta de entrada para o mundo construído de versos do escritor brasileiro.
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Li o livro “Contos de Aprendiz” e gostei muito