O estudo das emoções teve como primeiro impulsionador o naturalista britânico Charles Darwin que, em 1872, publicou um volume intitulado “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”. Darwin baseou o seu estudo em descrições de vários testemunhos que descreviam e comentavam as emoções que sentiam ao observar um conjunto de fotografias.
Este, que foi um dos primeiros inquéritos da história da ciência moderna, tornou-se no ponto de partida para o estudo das emoções. Depois disso, nomes como William James, Sigmund Freud ou António Damásio, entre muitos outros, tentaram entender os sentimentos e emoções face às reações do ser humano face a episódios da sua existência.
Profundo entusiasta do tema, o italiano Giovanni Frazzetto, neurocientista e um dos fundadores da European Neuroscience & Society Network e criador do projeto transdisciplinar Neuroschools – iniciativa que garantiu a Franzzetto o Prémio John Kendrew para Jovem Cientista, em 2008 -, faz-nos chegar “Como Sentimos” (Bertrand Editora, 2014), um ensaio pertinente sobre a vida quotidiana e as emoções que a mesma provoca e a que está sujeita.
Obra dividida em sete capítulos – cada um exclusivamente dedicado a uma emoção em particular -, “Como Sentimos” usa uma linguagem assertiva e deveras acessível ao comum dos mortais, levando o leitor a embrenhar-se numa viagem que mistura o conhecimento científico com a experiência do dia-a-dia e que é sinónimo de uma perspetiva singular, que vagueia entre o ceticismo/dogmatismo contrastante de temas como a racionalidade e os sentimentos que advém de artes como, por exemplo, a pintura, a poesia, a música ou o teatro. É desse intrincado jogo que resulta uma melhor compreensão da forma como sentimos enquanto pessoas, enquanto ser falíveis que têm no cérebro um órgão decisor.
Ao longo das páginas dedicadas à raiva, culpa, ansiedade, luto, empatia, alegria e amor, o leitor conhece uma série de dilemas que Giovanni Frazzetto pretende desmistificar. As perguntas são muitas: Pode a poesia ensinar a mecânica da alegria? A obra de Heidegger ou a observação de ratos em laboratório são ferramentas que permitem lidar de forma mais eficaz com a ansiedade que deriva da crise económica global? Uma pintura de Caravaggio pode levar a uma reação idêntica que deriva de um exame ao cérebro face ao sentimento de culpa?
Estas e muitas outras questões são abordadas em “Como Sentimos” com uma assinalável competência, de uma forma prática e bastante acutilante e a escrita leve de Frazzetto leva-nos a embrenhar o nosso interesse em assuntos como os genes MAOA, os resultados de uma Ressonância Magnética – que se assemelham a vulgares imagens de paparazzi cerebral -, a pertinência dos biomarcadores, o balanço ativo da serotonina, a sinapse enquanto dialética, os sistemas de neurónios-espelho, os processos de recompensa, a estimulação bipartida dos hemisférios cerebrais ou a quantificação da felicidade.
Mais que uma obra fechada em si própria, “Como Sentimos” dá ao leitor uma liberdade interpretativa que apenas um génio de um homem como Giovanni Frazzetto pode fazer. Mais do que saber o que a neurociência pode ou não dizer sobre as nossas emoções, este livro faz-nos entender o cérebro como nunca o tínhamos visto e, acima de tudo, demonstra que a ciência é insuficiente para conseguir explicar a pertinência das emoções, pois o meio ambiente e a experiência pessoal são armas poderosas nesta luta entre razão e sentimentos.
2 Commentários
Tenho de ler 🙂
Muito bom. Bem contextualizado, com abordagens pertinentes e de fácil acesso mesmo para leitores que não sejam desta área de estudo. Como estudante de psicologia com interesse acrescido nas neurociências este livro foi um fantástico presente de Natal.