Colm Tóibín, escritor irlandês nascido em 1955, foi por três vezes finalista do Man Booker Prize. Desse triunvirato, porém, “Brooklyn” (Bertrand Editora, 2015) – que levou para casa o Costa Award e este ano chega ao grande ecrã num filme realizado por John Crowley-, não consegui chegar à espremida short list, o que aconteceu com “The Master” e “The Blackwater Lightship”.
Toíbín é por muitos considerado o mais admirado escritor irlandês desde o reinado de John Banville, mas este “Brooklyn” estará, muito provavelmente, longe de ser o seu melhor romance. Talvez pelo facto de a sua ficção trabalhar muito no sentido de suprimir a voz do narrador, deixando as personagens entregues a si mesmas para, durante a narrativa, se revelarem independentemente de quem está a contar a sua história. As palavras são simples, o tom é contido mas, por outro lado, é algo que apenas revela as personagens no seu lado mais visível, faltando um pouco mais de carne, de espírito e de alma.
A história está centrada em Ellis, uma jovem rapariga que vive em Enniscorthy, uma pequena cidade irlandesa onde as perspectivas de trabalho e de casamento andam pelas ruas da amargura. Com o pai morto e os irmãos há muito emigrados para Inglaterra, Ellis vive com a mãe e a irmã Rose, que sustenta a família com o seu trabalho num escritório, vestindo-se com muito estilo e nunca perdendo uma tarde de golfe.
Será numa dessas tardes de ócio que Rose irá reencontrar um padre, regressado da América para umas férias, que se oferece para arranjar um trabalho para Ellis em Brooklyn que, em breve, se verá de malas feitas a atravessar o Atlântico em terceira classe, percebendo o imenso auto-sacrifício que Rose terá feito em seu nome.
Após a chegada a Brooklyn, a narrativa divide-se entre mostrar as saudades de Ellis da terra natal e o fascínio da descoberta de um novo e inesperado território, com as relações que vai mantendo com as suas colegas de casa e a senhoria, o seu trabalho numa loja de roupa, as aulas nocturnas de contabilidade e uma relação com tendências amorosas que estabelece com Tony, um canalizador italiano amante de baseball.
Quando um acontecimento a faz regressar forçosamente à Irlanda, Ellis constata que, de certa forma, a experiência americana a tornou mais glamorosa ao olhar alheio, tendo de decidir entre o conhecido e o inesperado.
Ainda que lhe falte algum sumo e mostre uma evidente tendência para a poupança gramatical, Tóibín mostra de forma tranquila a forma como são os lugares que, muitas vezes, lançam e entrelaçam as suas raízes, envolvendo o visitante numa teia da qual dificilmente este quererá escapar.
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