Cantora, artista plástica e cineasta, a japonesa Yoko Ono ficou, acima de tudo, conhecida por ser a ex-mulher de John Lennon e, para muitos, a principal responsável pelo fim dos The Beatles. Mas tal epíteto é manifestamente injusto.
Depois de uma juventude dividida entre o Japão e os Estados Unidos da América, Ono decidiu fixar-se em Nova Iorque no início da década de 1950. Foi nessa cosmopolita metrópole que conheceu alguns dos maiores vultos da cultura vanguardista entre os quais se destacava, por exemplo, o músico John Cage.
De profundo espírito independente, rejeitaria o apoio e o apelo da sua milionária família para regressar ao Japão, optando por ensinar arte japonesa e música em algumas escolas públicas norte-americanas. Paralelamente, está na génese da formação de um novo movimento vanguardista denominado Fluxus, onde explorava ideias que juntavam conceitos dadaístas e construtivistas.
Totalmente embrenhada na exploração da arte enquanto forma de expressão universal, Yoko Ono lança em 1964 o livro “Grapefruit”, obra que exemplificava o expoente da arte conceptual através de uma nova filosofia e perspetivas.
Hoje, quase cinco décadas depois, Ono regressa com “Bolota” (Pergaminho, 2014), uma espécie de elemento de continuidade face a “Grapefruit”, que nasceu para integrar um evento de uma plataforma online e, depois, assumiu a forma de livro. No fundo, o propósito foi, nas palavras da autora, «viajar numa máquina do tempo que me transportasse para a forma antiga de fazer as coisas.»
Como uma semente que deve ser enraizada nas entrelinhas da história de Yoko Ono, “Bolota” condensa pensamentos, poemas, meditações e desenhos (entre a bizarria e a abstração) ponteados da japonesa, que assim incita à reflexão. As palavras fluem de forma serena e mordaz e ao leitor está reservado um papel fruidor e humanista que possibilita uma viagem entre o céu, a terra e a cidade, passando por tangentes face às estações do ano, à magia dos sons e silêncios ou à própria vida.
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