Em “Blue Exorcist” (Devir, 2015) os demónios são não só reais como, também, uma verdadeira ameaça à nossa existência. É por isso que um grupo de exorcistas, com mais de 2000 anos de História e sob o comando do Vaticano, têm vindo a proteger o mundo destes perigos. Uma das características deste grupo é terem criado várias academias dispersas pelo mundo, sempre com a preocupação de treinar as futuras gerações de exorcistas. Esta trama, em particular, gira em torno de um desses estudantes de exorcismo, o jovem Rin Okumura que, juntamente com o seu irmão gémeo, Yukio Okumura, tem a particularidade de ser filho de Satã, o mais poderoso dos demónios e o grande antagonista de “Blue Exorcist”. Apesar de ter um gémeo, apenas Rin herdou poderes extraordinários de seu pai, tais como as famosas chamas azuis, cuja cor é invocada no título desta série: Rin Okumura será o Blue Exorcist. No dia em que o seu pai adoptivo – o padre Shiro Fujimoto – foi morto por Satã, Rin jurou vingança e , desde então, temos vindo a assistir ao seu treino nas artes do exorcismo.
Neste sexto volume voltamos a encontrar os membros da Academia da Verdadeira Cruz, sempre em situações cada vez mais delicadas. Para começar, o número de pessoas a conhecerem a origem demoníaca de Rin Okumura tem vindo a aumentar, o que gera ainda mais desconfiança e receio entre estudantes do exorcismo. A personalidade amigável de Rin até tende a conquistar os seus colegas mas, infelizmente, o seu temperamento explosivo continua associado ao descontrole das suas chamas azuis – o que nunca abona a seu favor. É por isso da maior importância que este não descure o seu treino com Shura Kirigakure, enviada de propósito pelo quartel-general do Vaticano.
Claro que o pior evento está relacionado com os desenvolvimentos após o olho esquerdo do Rei Impuro ter sido roubado do forte subterrâneo da academia. Neste volume, novas informações são desvendadas, ao mesmo tempo que se procura por um traidor no seio da academia, algo que assume proporções ainda maiores depois da recente traição de Saburota Todo.
No final existem ainda duas histórias bónus fora da cronologia principal. Na primeira, “O Comboio Fantasma”, temos uma aventura que reúne os irmãos Okumura, com o objectivo de vincar as grandes diferenças entre estes dois. Apesar de Yukio já ter o grau de exorcista, é sempre de valor a adição da perspectiva mais emotiva de Rin. O rapaz das chamas azuis pode não ter a experiência do seu gémeo, mas sabe defender aquilo em que acredita, nunca esquecendo o que mais importa nestas missões. Já em “Kuro Foge de Casa” temos uma história de cariz humorístico, uma curta aventura que explora a relação de Rin e Kuro, o seu gato encantado.
Em “Blue Exorcist”, Kazue Katō cultiva uma mitologia em torno do exorcismo e dos demónios de uma forma mais aventureira. Todas estas concepções aqui expostas bebem da religião católica e, por isso, é apenas natural que a autora abrace essas influências e faça várias menções a esta crença ao longo da narrativa. Em termos de enredo, “Blue Exorcist” acaba por não se destacar de outras séries do género, desenrolando-se de forma demasiado previsível e estando carregada de lugares comuns. O humor tende também a cair nas graçolas típicas de cariz sexual, com as taradices do sexo masculino como protagonistas – taradices essas que, neste volume, convencem pouco, soando até algo forçadas.
No que toca ao desenho o trabalho de Kazue Katō brilha mais, com um detalhe dado ao retrato dos espaços e das personagens, que não passa despercebido. É de muito valor a atenção que Katō presta à construção física de todos os intervenientes na sua história, criando-lhes uma série de características bem distintas que os define e distingue ao longo da narrativa. Se a história conseguir evoluir, encontrando um rumo mais empolgante, “Blue Exorcist” poderá muito bem tornar-se numa das grandes séries de entretenimento da actualidade a ser publicada por cá.
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