No preâmbulo ao terceiro e final volume de Angola – O Nascimento de Uma Nação, intitulado “O Cinema da Independência” (Guerra & Paz, 2015) Ruy Duarte de Carvalho fala de uma “cinematografia de urgência”, que surge para filmar o nascimento da nação usando os equipamentos deixados pela administração portuguesa que, por essa altura, preparava o surgimento de uma televisão pública no país quando eclodiu o 25 de Abril de 1974.
Pensado pelo presidente Luandino Vieira como um projecto de cinema nacional, foi a convite deste que chegaram ao país o trio de técnicos franceses da Unicité, ligados aos grupos Medvedkine, em França: Bruno Muel, Antoine Bonfanti – colaboradores habituais de Jean-Luc Godard, Chris Marker, Jean Rouch e Alain Resnais – e o jornalista Marcel Trillat. O objectivo era ambicioso: assegurar rapidamente o funcionamento da Televisão Popular de Angola e, ao mesmo tempo, fixando em 16mm o nascimento da nação. Chegam-se à frente realizadores como António Ole, Ruy Duarte e Asdrúbal Rebelo que, para além de um “cinema do Estado” de cariz político, trazem també, o cinema de autor.
Composto por quatro ensaios e duas entrevistas, este terceiro volume encerra, com capa dura, muitas fotografias a preto e branco posters coloridos, a história do cinema angolano: José Mena Abrantes apresenta uma panorâmica da história da cinematografia angolana, desde a sua independência – e efervescência da fase do cinema pós-independência – ao período de impasse, entre 1985 e 2000, falando da década de incertezas situada entre 2006 e 2015; Ros Gray, especialista em “cinema militante”, concentra-se em alguns trabalhos fundamentais produzidos graças às relações de solidariedade que o MPLA mantinha com o Governo cubano e o Paratido Comunista Francês; a documentarista e investigadora Tatiana Levin retrata os diferentes perídos de produção cinematográfica em Angola, focando-se principalmente no cinema feito hoje em dia pelo movimento da periferia – conhecido como “cinema de poeira” – e os escassos realizadores novos e veteranos exteriores a este movimento; Maria do Carmo Piçarra revisita a obra de Ruy Duarte, particularizando o modo como o cineasta-poeta participou no que ficou conhecido como “cinema de urgência”; e há também entrevistas aos realizadores Jorge António e Sarah Maldoror, num livro que pretende ser um primeiro contributo para um inventário sobre o cinema feito em Angola.
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