De Jonathan Evison, o autor best-seller que trocou os palcos pelos livros, chega-nos o seu terceiro romance: “Amizades improváveis” (Topseller, 2015). Trevor é um jovem de 19 anos com distrofia muscular, limitado a uma cadeira de rodas e cada vez mais dependente de um auxiliar. Benjamin tem 39 anos e é um homem despedaçado que perdeu tudo, inclusive a vontade de viver. Em sérios apuros financeiros, acaba por ingressar num Curso Básico de Apoio ao Domicílio que o torna habilitado a “cuidar dos menos afortunados”. Neste contexto, as vidas de Trevor e Ben acabam por se cruzar, e as possíveis diferenças entre ambos acabam por dar lugar a uma amizade improvável. Tal como a capa do livro deixa antever, juntos vão embarcar numa viagem que vai mudar para sempre a forma como lidam com o passado, vivem o presente e perspectivam o futuro.
O desenvolvimento das personagens é um dos pontos positivos desta história. O passado é uma descoberta contínua que vamos fazendo ao longo da leitura, não sendo dado logo à partida, o que acaba por agarrar o leitor. A grande tragédia que assomou a vida de Ben é revelada lentamente e envolta em mistério, em curtos capítulos que nos permitem revisitar o seu passado.
Outro ponto forte é, sem dúvida, não tratar as pessoas com deficiência como coitadinhos. Aliás, mostra claramente que não é assim que estes pretendem ser tratados, por isso não esperem sentimentos de pena ou comiseração por Trev. Este é um livro que fala de emoções, mas não de forma piegas e melosa. Apela antes ao coração pelas dificuldades reveladas nas mais básicas actividades do quotidiano, num retrato real e sem sentimentalismo. Aliás, a forma como ambos falam das mulheres pode até ferir a sensibilidade das leitoras mais sensíveis, mas isso, é sabido, só os aproxima da realidade.
Desenganem-se os que esperam um romance unicamente dedicado à doença de Trev e ao papel do cuidador que, diga-se, está aqui muito bem homenageado. Esta é apenas uma parte do enredo, do qual vão surgindo pequenas tramas que exploram as origens dos vários corações despedaçados. As duas personagens secundárias são bastante cativantes – Dot e Peaches –, mostrando que as pessoas não são o que aparentam ser e que, por vezes, vivem numa bolha para esconder os fantasmas do passado e aquilo que mais íntimo lhes vai na alma.
Menos positiva é a imaturidade por vezes exagerada (e irritante) de Ben: Trev chega a ser mais adulto que o seu próprio cuidador. Já a grande viagem, central no livro, parece surgir tarde de mais, só a meio da obra, mas compreende-se que assim permita estabelecer um importante contraponto entre aquilo que é o dia-a-dia de alguém com deficiência e o abraçar de uma nova e excitante aventura.
A narrativa na primeira pessoa, os capítulos curtos, os momentos de humor, a capacidade do autor compatibilizar uma veia mais séria com uma mais cómica em temas como o divórcio e a complexa relação entre pai e filho, fazem desta uma leitura simultaneamente divertida e tocante. Uma história sobre personagens destruídas mas resilientes, que nos oferecem um olhar esperançoso, fazendo vingar a redenção, o perdão, a coragem, a amizade e o amor. Soltar amarras, desapegar-se de um passado difícil, é deixar a mágoa dar lugar à superação. A grande inspiração está na força de acreditar: “uma força mais poderosa do que a própria gravidade”.
“Amizades improváveis” vai ser adaptado ao cinema já este ano.
3 Commentários
Olá, assisti o filme e fiquei encantado.. como faço para adquirir o livro
Olá Guilherme. Poderá fazê-lo directamente através da editora (Topseller) ou, e, alternativa, comprá-lo em qualquer livraria física ou online via FNAC, Bertrand, Wook, etc.
Esse livro não foi publicado no Brasil. Uma pena!