Passados 50 anos desde o seu lançamento, “Alegria Breve” (Queztal Editores, 2015) continua a retratar a Humanidade como tão bem sempre retratou, uma obra filosófica que merece ter (um pouco mais de) destaque na literatura portuguesa.
Vergílio Ferreira desperta o Homem em cada um de nós. Jaime, habitante de uma aldeia perdida no tempo e espaço, assiste ao renascer dela e à sua morte, à chegada de estrangeiros e à sua partida, ao nascimento do seu filho e à sua perda. A solidão interior que se instala neste homem é conjugada com a breve alegria das suas reflexões, anunciada pela morte ao longo da narrativa e amplificada pelo desespero de propagar a sua existência, ao longo da memória do tempo.
“Alegria Breve” é um ciclo e, por isso, aborda temas universais aos humanos. «Enterrei hoje minha mulher – porque lhe chamo minha mulher? Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira.» Não é apenas a mulher que ele enterra, é também a esperança. A visão de Jaime do mundo (mas também do seu interior) apresenta-se como perdida, mas também ciente da beleza do mundo. Porque, mais do que o cansaço mental («Estás velho, estás cansado» – palavras de Jaime ou de Vergílio Ferreira?), o livro termina com uma pequena chama, uma pequena luz que ilumina o conceito de “vida”. Porque, mais do que um final, esta obra apresenta um início, de tudo e de todos.
Mais uma obra existencialista de Vergílio Ferreira, mais um grito de solidão acima do “eu”, do desespero sobre a essência da felicidade.
2 Commentários
A Carolina é bem uma jovem rendida ao ato de ler, parabéns! Seria bom apresentar uma reflexão sobre o que a levou a amar tanto a Literatura. Desafio-a, pois, a pensar nisso.
Obrigada Professora, pelo seu comentário. Agradeço a sua sugestão e por isso lhe digo: Desafio aceite 🙂 Boas férias.