Um teste à resistência das pálpebras em forma de abecedário. Uma luta contra o sono de A até Z. Um ABC ensonado cuja grande e poderosa missão é embalar até adormecer. Tal qual como acontece com o título do livro.
“ABZZZZ…” (Planeta Tangerina, 2014) é um álbum ilustrado com poderes. No início, ou seja na letra A, todos mantemos os olhos bem abertos, mas, de bocejo em bocejo, o cérebro vai deixando o dia, as estrelas vão iluminando a noite e, mesmo quem finca-pé, como o gato, acaba por hibernar.
A autora, Isabel Minhós Martins, brinca com o abecedário do sono e chama o leitor para o centro da acção, desafiando-o com perguntas e experiências. Então, enquanto vence o sono, o leitor é questionado e convidado a participar: Sabias que os ursos ronronam? O que significa kilowatt? Sabes fazer a tua cama? Os teus pais são corujas? Experimenta fechar os olhos durante 3 segundos…
Os leitores ainda irrequietos, quando chega a letra I, sentem que já chega de questões, que os seus kilowatts começam a diminuir e que desejariam ser leopardos e dormir 14 horas por dia. Mesmo com um mosquito a zumbir, a noite cai como ondas pequeninas que chegam, as pálpebras pesam, quase a fechar, a respiração acalma e o silêncio vence.
A ilustradora Yara Kono pintou o livro em tons de negro, de amarelo, de um pouco de laranja e de um ou outro azul, para desenhar meninos que dormem com os braços e as pernas abertas, imitando estrelas, e retratar aqueles que dão voltas e voltas na cama, ficando quase a cair, até acabarem mesmo num grande trambolhão para o tapete… macio.
Porém, mesmo deitados no tapete, há um momento na letra U para lembrar que, o último a adormecer, vagueia no vazio do pensamento, pergunta-se “what?” e, depois de um xixi e ao voltar para a cama, pensa-se nos meninos que, do outro lado do mundo – como em Yaren -, estão prestes a acordar.
É aí que o livro se fecha num prolongado zzzzzzzz, da última página para a primeira reabrir, caso o sono acabe ou não chegue sequer. Desligado o botão, despedimo-nos do dia, deixa-se tudo para trás e arruma-se o cérebro, por umas horas, até a manhã chegar.
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