Dizer que o céu é o limite é um chavão utilizado para contextualizar a ambição. Mas, por vezes, estar perto das nuvens pode ser um misto entre o sonho e o pesadelo, entre a vida e a morte.
Antoine de Saint-Exupéry foi um homem que sempre esteve nessa constante viagem aos desafiar os céus e as mentes de milhões de pessoas que têm, em livros como “O Principezinho”, um companheiro que os acompanhou, e acompanhará, ao longo de toda a vida.
Ainda que tenha apenas vivido 44 anos, Saint-Exupéry abraçou o acto da existência com uma desmesurada noção de aventura. Por entre momentos de felicidade e tragédia absoluta, a fama do autor de “O Principezinho” cresceu, maioritariamente, não quando verbaliza pensamentos em forma de livro mas sim ao desafiar a gravidade enquanto um piloto-aviador de tendências impulsivas e solitárias.
Quando o final da Segunda Guerra já era sentido por muitos, em julho de 1944, um avião de reconhecimento da Força Aérea Francesa foi dado como desaparecido. O rápido e moderno P-38 Lightining de fabrico norte-americano, que estava ao serviço dos Aliados, sumiu sem deixar rasto, dando assim origem a um dos mais românticos mistérios da história recente. O piloto desse avião era Antoine de Saint-Exupéry.
Fruto de um espírito aventureiro e sem nunca virar a cara à luta, a vida de Saint-Exupéry ficou marcada por inúmeros actos fascinantes e episódios únicos registados num dos períodos mais controversos da história de França.
Através de uma narrativa repleta de sentido e com um assinalável dinamismo factual, “Antoine de Saint-Exupéry: Vida e Morte do Principezinho” (Vogais, 2014), de Paul Webster, mostra um pouco da faceta mais escondida de um homem que tanto representava a aristocracia galesa, exibindo mesmo o título de Conde, como revela, sem pudores ou filtros, um perfil aventureiro através da mestria da escrita e da desmesurada vontade de rasgar o azul do céu.
Tendo por base uma investigação cuidada e muito meticulosa, Webster, conceituado jornalista que foi durante mais de três décadas correspondente do jornal The Guardian, em Paris, consegue uma excelente e empolgante biografia que vai encantar não apenas os fãs de Saint-Exupéry escritor como também de uma figura incontornável da cultura europeia.
Dividido em três partes (De 1900 a 1930, de 1931 a 1939 e de 1939 a 1944) e com um curto mas interessante epílogo que versa sobre as buscas ao malogrado piloto, “Antoine de Saint-Exupéry: Vida e Morte do Principezinho” revela pormenores da vida familiar e social de Saint-Exupéry, dos quais se salientam incursões sobre a sua infância pouco feliz, assim como dos conturbados anos de um casamento pautado pela ausência e infidelidades por parte de um homem que sobrepunha a paixão pela aviação ao matrimónio. Webster faz ainda alusão à ascendência profissional de um piloto mal-amado pelos colegas, traçando também uma tangente ao histórico dos acidentes de Antoine enquanto ao comando de várias aeronaves.
Também a obra maior do Saint-Exupéry, “O Principezinho”, não foi esquecida por Webster e esta biografia revela alguns segredos sobre as personagens do livro que viu chegar aos escaparates a sua primeira edição em 1943, cerca de um ano antes do desaparecimento do seu autor.
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