«Silenciosa, embora vibrante.» É desta forma sucintamente acertada que Jerónimo Pizarro descreve, no posfácio escrito para “A noite abre meus olhos” (Assírio & Alvim, 2014), a poesia de José Tolentino Mendonça, feita de interrogações e escrita com muita irrequietude por alguém que tem, com a religião, uma ligação de muita fé e crença.
O livro reúne toda a poesia de Tolentino Mendonça, incluindo o mais recente “A papoila e o monge”, escrito depois de uma visita ao Japão a convite do Centro Nacional de Cultura – no final de 2010 – onde apenas no regresso conseguiu passar para o papel o encantamento que sentiu a oriente, oferecendo encantadores haikus como este: «Um dia / arderás o caminho / para que ninguém sinta os teus passos.»
Se escavarmos o suficiente, encontraremos nos seus versos alguns reflexos alheios, sejam de Rilke ou de Hélder, mas não será arriscado dizer que Tolentino Mendonça tem a sua própria voz, uma que faz da poesia um lugar de interrogação mas, também, de fruição da natureza que nos cerca.
É um mundo onde convivem a transcendência e o materialismo, numa poesia que alcança a profundidade sem precisar de recorrer a subterfúgios ou a complicados jogos de palavras. Como se envolta, de forma permanente, no espírito de um haiku: «Não sabia que todo o poema / é um tumulto / que pode abalar / a ordem do universo agora / acredito» Um livro essencial.
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