• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
A máquna do mundo, Paulo José Miranda, Abysmo
Crítica, Mil Folhas 0

“A máquina do mundo” | Paulo José Miranda

Por Pedro Miguel Silva · Em 20/08/2014

Paulo José Miranda abraçou, há já muitos anos e por vontade própria, a vida de emigrante, primeiro na Turquia e, mais tarde, em Fazenda Rio Grande, no Brasil, onde actualmente reside. Venceu o Prémio Saramago em 1999 – com o romance Natureza Morta – mas, desde então, pouco se tem sabido sobre a produção literária, apesar de esta aparentemente ter mantido alguma regularidade, não acompanhada porém a nível editorial e noticioso no nosso país. Este ano, como que para recuperar o tempo perdido, a Abysmo editou de uma assentada três livros seus: “Todas as cartas de amor”, “Exercícios de Humano” e “A máquina do mundo” (Abysmo, 2014), livro a que serão dedicadas as próximas linhas.

O começo de “A máquina do mundo” tem um certo ar Cronenbreguiano, revelando um homem que apenas tem duas vidas e «toda uma missão por cumprir.» As vidas, essas, são oferecidas de acordo com a missão que for aceite, e cada erro implica perder uma delas. Há, porém, duas formas de recuperar corações: a personagem apaixonar-se com reciprocidade ou, ainda mais difícil, inventar algo que ainda não exista no jogo.

Camaleão – Turker no bilhete de identidade – é um mestre dos disfarces, um assassino profissional à moda de James Bond, ainda que lhe pareça faltar o charme e o sentido de humor deste. É especialista em explosivos e, como assinatura pessoal, gosta de terminar os serviços com um tiro no coração das vítimas. Afinal, falamos de um personagem que louva a violência e descobre, na tortura, um lado poético.

Porém, mesmo imerso na mais pura violência com uma boa dose desangue-frio, o Camaleão tem também um ponto fraco, aqui representado por uma irlandesa esbelta, sedutora e implacável; uma mulher que o traiu numa missão anterior e que, aparentemente, tem agora a missão de o matar.

A máquna do mundo, Paulo José Miranda, AbysmoO livro, que nos leva num inter rail com passagens pelo Chipre, Hong Kong, Turquia ou Tailândia, está carregado de mensagens políticas e económicas, seja fazendo-nos atravessar um campo de concentração que funciona como um bando de órgãos ou pondo em causa todo o equilíbrio geo-estratégico mundial.

O romance/thriller de Paulo José Miranda é uma radiografia crítica e detalhada dos mecanismos do poder, quase sempre sustentado por um esquema de violência que perpassa toda a pirâmide que criou e onde confortavelmente se senta. A máquina do mundo é representada pela empresa Existe, Lda., uma multinacional da qual 90 por cento dos habitantes são assalariados e só o resto participa dos lucros. Porém, conseguiu criar nos seus trabalhadores a ilusão de liberdade, deles retirando a vontade de rebelião ou o impulso à mudança. Um impulso que parece estar colado às palavras de Paulo Miranda: a necessidade de fazer parar a máquina.

No final fica a dúvida se estaremos a caminhar em terrenos reais ou virtuais, mas talvez tenha sido esse o objectivo de Paulo Miranda: fazer-nos olhar o mundo como uma empresa que nos têm a todos na mão, tornando-nos personagens virtuais de um jogo manipulado desde o início.

A máquina do mundoAbysmoPaulo José Miranda

Pedro Miguel Silva

Pode Gostar de

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors, Mil Folhas

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista, Mil Folhas

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular, Mil Folhas

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Mil Folhas

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors,

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

    08/05/2025
  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista,

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

    08/05/2025
  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular,

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

    07/05/2025
  • Dentro da Tenda, Lucie Lučanská, Deus Me Livro, Crítica, Planeta Tangerina,

    “Dentro da Tenda” | Lucie Lučanská

    07/05/2025
  • Um Lugar Luminoso Para Gente Sombria, Mariana Enriquez, Deus Me Livro, Crítica, Quetzal,

    “Um Lugar Luminoso Para Gente Sombria” | Mariana Enriquez

    30/04/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto