“A maldição do rei” (Planeta, 2015) é, na versão original, o sexto e último livro da série A guerra dos primos, da qual a editora publicou, em maio, “A rainha branca“, que corresponde ao primeiro volume. Contudo, pode ler-se “A maldição do rei” sem se ter lido o primeiro volume, uma vez que Philippa Gregory relembra os aspetos fundamentais para perceber esta obra, nomeadamente a questão da maldição focada neste último livro.
Uma vez mais, a autora recorre a uma mulher de personalidade forte para contar a história pelas suas próprias palavras: Margarida Pole, ex-Plantageneta de York, em 1499, ano em que começa a narrativa. Para nos situarmos na época histórica, é necessário saber que Margarida é sobrinha de Isabel Woodville, protagonista de «A rainha branca», filha de Jorge, irmão de Eduardo IV. Ela e o seu irmão, Eduardo Plantageneta, ficaram órfãos e foram criados no infantário do castelo de Middleham. Foram afastados da pretensão à coroa e relegados para a obscuridade. Chegada a altura de casar, Margarida foi obrigada a contrair matrimónio com o humilde cavaleiro Sir Richard Pole, de quem teve cinco filhos: Henry, Arthur, Úrsula, Reginaldo e Geoffrey.
Richard é o guardião de Arthur, filho primogénito de Henrique VII e de Isabel de York, de quem Margarida é prima e amiga. Educado para ser rei, Arthur casa com a espanhola Catarina de Aragão, outra das protagonistas deste livro. Contudo, a chamada doença do suor, uma epidemia mortífera que tinha surgido recentemente, acaba por matá-lo e Catarina fica viúva. Reclamando que o casamento não se havia consumado, ela acaba por casar com o irmão de Arthur, o futuro Henrique VIII.
É à volta destes factos da História de Inglaterra que Philippa Gregory compõe este livro, magnificamente escrito e muito bem pesquisado, como é hábito desta escritora. Confrontado com o volume anterior publicado pela Planeta, este é ainda mais apelativo, conjugando sempre muita acção e acontecimentos com as devidas explicações históricas.
A obra é passada na época de Henrique VIII e Catarina de Aragão – e, também, numa fase posterior da não menos conhecida Ana Bolena -, sempre apresentada pela voz de Margarida Pole, que poucos conhecem por ter sido ignorada por cronistas e historiadores – mas que Gregory optou por, para júbilo do leitor, dar a conhecer melhor. Comparativamente à personagem feminina do primeiro volume, cria-se uma maior simpatia por esta mulher de carácter, forte, corajosa, determinada, lutadora, justa e leal.
Apesar de não ter a componente mágica do primeiro, regressamos indirectamente à magia sempre que surge no ar a suspeita da maldição lançada por Isabel Woodville e a sua filha, que rogava que o culpado pelo desaparecimento do seu filho na Torre de Londres não pudesse nunca ter filhos varões. Fica, pois, no ar, a ideia de que a praga se repercutiu nas gerações seguintes dos Tudor, incluindo, obviamente, Henrique VIII.
Henrique VIII é apresentado como um dos monarcas mais cruéis de Inglaterra. Devido ao seu desejo de se separar de Catarina para se casar com Ana Bolena, dominou a igreja, desautorizou o Papa, tornou-se autoritário, era implacável com quem o criticava, mandava matar se estivesse de mau humor. Dizia-se que de manhã tinha uma opinião e, ao fim do dia, outra completamente contrária. Ficou para a História como um tirano louco.
“A maldição do rei” é uma obra de leitura empolgante, que aborda factos romanceando-os, que preenche lacunas de informação, e que marca o fim de uma série que fará, certamente, as delícias não só dos fãs da autora como dos apreciadores de um bom romance histórico da época dos Tudor.
1 Commentário
Uma critica tão bem escrita. … só poderia ser de Sofia Afonso. Concordo. De fato a história reza que a familia dos Tudor era cruel e resolvia as grandes e as pequenas questões fazendo rolar cabeças. Catarina de Aragão educada por Isabel “A Catolica” para ser uma rainha digna de qualquer coroa da Europa não merecia um destino tão cruel e tão afastado das suas expectativas.