Vencedor do Costa First Novel Award, “A Elizabeth Desapareceu” (Marcador, 2015) tem sido apresentado em Portugal – pelo menos pela sua editora – como o grande acontecimento literário do ano.
Emma Healey, a jovem autora, escreveu o primeiro conto aos quatro anos e, aos oito, parecia ter já encontrado na escrita a sua preferência para o ainda distante futuro. Porém, aos doze anos – e como é hábito nestas coisas da criancice -, deixou-se levar pelo filme Clueless e mudou as baterias para a advocacia. A verdade é que dez anos depois voltou a sentir o apelo da escrita, isto após ter trabalhado em duas bibliotecas, duas galerias de arte e duas universidades. Em 2010 mudou-se para Norwich para fazer um mestrado em Escrita Criativa e, desde então, nunca mais voltou a Londres, tendo em 2014 publicado este seu primeiro romance.
A personagem central dá pelo nome de Maud, uma octogenária que conheceu já melhores dias e que não tem muito para fazer além de ver programas de televisão passados em sofás, cozer ovos e coleccionar latas de comida – sobretudo pêssegos em lata -, enquanto espera por Carla – a sua desbocada cuidadora -, Helen – a filha impaciente – ou Elizabeth, esta última a única amiga que lhe resta.
Maud atribui, ao papel, a missão de servir de fiel depositário da memória, deixando papelinhos por toda a casa, roupas e lugares estranhos, seja com receitas, números de telefone, acontecimentos diários ou compromissos futuros – tudo serve para que mais um papel seja escrevinhado em nome do não esquecimento.
Um dia, um desses papéis desperta qualquer coisa em si, apesar de não se lembrar de o ter escrito: «A Elizabeth desapareceu». Maud está certa de que algo se terá passado com a sua amiga, uma vez que não está ninguém em sua casa e, quanto ao filho, não parece ser um rapaz de confiança. A obsessão cresce tanto que, a certa altura, Elizabeth recua décadas no tempo e, entre desmaios, quedas e perdas de memória, regressa a Londres e à Segunda Guerra Mundial, aos tempos em que também a sua irmã desapareceu para nunca mais ser encontrada.
O livro navega então entre estes dois momentos temporais, balançando entre um romance com certo espírito de época e um policial à moda inglesa, centrando-se num inquietante mistério com sete décadas de existência. Há, contudo, uma sensação de cansaço revelada a certa altura do livro, restando ao leitor esperar por um epílogo que, carregado de melancolia, amor e esquecimento, acaba por compensar, em parte, uma narrativa que cozeu em lume demasiado brando.
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