A premissa que dá corpo ao romance de David Levithan era deveras prometedora, como se pode ler na contracapa: «A cada dia, A acorda no corpo de uma pessoa diferente. Nunca sabe quem será nem onde estará. A já se conformou com a sua sorte e criou regras para a sua vida: nunca se apegar muito. Evitar ser notado. Não interferir.»
Três regras que, dada a carga surreal da situação, ajudam A a manter alguma sanidade, tentando viver cada dia de forma a não perturbar a existência de cada um dos corpos que habita, um pouco como a atitude que os ladrões usam num furto: entrar, despachar o trabalhinho e sair de mansinho.
Porém, no dia em que acorda no corpo de Justin e conhece Rhiannon, a namorada deste, decide que é altura de atirar com as regras às urtigas para estar perto de alguém de quem quer estar ao lado todos os dias. A tarefa não será porém fácil, já que o quebrar de regras traz consigo deslizes, e outros perceberão que há por aí uma espécie de fantasma a tomar conta de corpos alheios.
Em “A cada dia” (Topseller, 2015), David Levithan desafia, de forma divertida, a descoberta da orientação sexual e do amor verdadeiro, ainda que, a espaços, faça um uso algo abusivo da quantidade de mel que confere à narrativa.
Por detrás de uma cortina de fumo, Levithan explora o dilema que muitos adolescentes enfrentam ao sentirem a sua pele como estranha, desejando pertencer a um outro corpo ou, como A, de acordar num corpo diferente em cada um dos dias da existência.
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