O tema da morte tem surgido, ultimamente, na literatura infantil em vários livros especiais. Especiais pela delicadeza das histórias, pela finura das ilustrações, pela emoção latente em cada página mas, acima de tudo, especiais porque falam da vida, de um passado a guardar e de um futuro feito de influências e boas memórias.
“A avó adormecida” (Kalandraka, 2015) é um novo livro dentro de tamanha responsabilidade: falar da mais dura das realidades aos meninos e meninas que ainda acreditam que tudo é eterno e infinito.
A história de um menino e da sua avó que, adoentada, perde a memória, é um desenrolar de serenidade e amor, patente num cenário familiar sem a frieza dos hospitais e lares que, tantas vezes, acompanham estas despedidas. O texto, dotado de um sentimento poético muito forte, evoca as memórias do autor, Roberto Parmeggiane, narrando um processo de doença assente num caminho de subtileza e carinho.
Um dos momentos mais bonitos do livro apresenta-nos avó e neto num apertado abraço sorridente. Nesse instante, o menino recorda que a avó «abraçava-me a toda a hora, e eu desaparecia no seu amor.» O amor atravessa todo o livro, inunda nas frases e salta das imagens, contagiando-nos e adoçando-nos a voz enquanto lemos. Lembrar aquilo que se perdeu, seja a limonada ou o melhor esparguete à bolonhesa do mundo, surge na história como actos de ternura e saudades. Porém, há sempre um apontamento de esperança, como se o menino dissesse, a nós e a ele próprio, que a avó ficará eternizada em tudo o que ele aprendeu e viveu com ele – e que ele há-de prosseguir.
As ilustrações de João Vaz de Carvalho, feitas com lápis, aguarela e pastel, recorrem a belas metáforas visuais para enfatizar um caminho, entre a presença e a ausência, entre a avó que cuida do neto e o neto que acompanha a avó, na sua enfermidade, lendo-lhe histórias junto à sua cama.
Licenciado em Ciências da Educação, o italiano Roberto Parmeggiani, autor de diversos livros infantis, gere uma biblioteca diretamente vocacionada para portadores de deficiência, trabalhando com oficinas de animação educativa, visando sempre a integração.
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