Apesar de ser uma das suas imagens de marca, não é muito comum na Disney fazerem-se filmes inteiramente antropomórficos. “Zootrópolis” é, portanto, uma animação não muito comum, passada num mundo de animais que falam e se comportam como humanos (e sem humanos!). Um mundo em que todos os mamíferos, presas e predadores, convivem em harmonia, e em que a capital, Zootropolis, é símbolo de tolerância e igualdade (ou pelo menos aparenta ser).
É essa a primeira mensagem de “Zootrópolis”, que conta com uma realização tripartida por Byron Howard, Rich Moore e Jared Bush. A segunda é a de que todos os sonhos são possíveis, algo personificado pela personagem de Judy Hopps (voz de Ginnifer Goodwin na versão original), a primeira coelha a tornar-se polícia numa realidade em que o tamanho parece ainda contar. São duas mensagens morais nobres, ao bom estilo da Disney, habitual bastião dos bons costumes, mas que, seguindo uma parente tendência dos seus últimos filmes, parece tomar os miúdos por atrasados e explicar bem explicadinho o seu caderno de encargos (não vá alguém não perceber a intenção). Por isso os pais de Judy fazem questão de repetir, vezes sem conta, para estes não sonharem em demasia e manterem as expectativas baixas.
Essa certa “infantilização” (que já acontecia no anterior “O Bom Dinossauro”, mas ainda de forma mais explícita) não deixa de ser curiosa num filme que acaba por apelar mais vezes a um público crescido do que seria de esperar, sejam nas mil e uma referências ao “Frozen” (chega quase a ser uma obsessão), seja na caricatura acertada que faz de Shakira (na pele de uma sensual gazela de rabo saliente) ou do mundo da pop e do star system musical de hoje. Tudo isto é embrulhado numa história policial, em que Judy e uma raposa matreira, Nick Wilde (voz de Jason Baterman), têm 48 horas para desvendar o caso de uma lontra desaparecida.
“Zootrópolis” já foi catalogado na net, por mais do que uma vez, como o melhor filme da Disney desde “O Rei Leão”. É um filme feliz, com momentos memoráveis (a sequência com as preguiças enquanto funcionárias públicas, que se tornou viral, é das melhores coisinhas que vimos nos desenhos animados desde… desde sempre), mas não exageremos. Até porque há outros episódios que são claramente tiros de pólvora seca, como a ratazana que gere o submundo do crime e que emula o Don Corleone, de Marlon Brando. Ainda assim e feitas as contas, “Zootrópolis” poderá bem ser a grande animação de 2016.
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