Entre os dias 10 e 20 de Outubro, Setúbal recebe a 1ª edição do Film Fest – Festival de Cinema Musicado ao Vivo, que promete ser um festim para quem gosta de música e cinema no mesmo comprimento de onda. Será entre o Fórum Municipal Luísa Todi e o Cinema Charlot que se irá estabelecer a relação entre a música e a imagem, num resgate de filmes mais ou menos esquecidos, acompanhados ao vivo por uma série de bandas sonoras inéditas. O Deus Me Livro colocou, por e-mail, algumas questões à organização, que respondeu a uma só voz. A apresentação oficial do festival acontece a 4 de Outubro nos antigos Armazéns Papéis do Sado (junto ao Museu do Trabalho), pelas 18h30 (entrada livre), e conta com a apresentação do filme “L’Inhumaine”, de Marcel L’Herbier, ao som de Lamim.
Qual foi a ideia que presidiu à criação do Film Fest – Festival de Cinema Musicado ao Vivo, um festival que combina o cinema mudo e a música contemporânea, cuja primeira edição acontece em Setúbal durante o mês de Outubro?
O cinema e a música estão intrinsecamente ligados à Cidade de Setúbal e, por essa razão, fez-nos todo o sentido aliar ambas, desafiando grandes músicos e projectos musicais da esfera nacional para a criação de concertos inéditos para o acompanhamento de filmes e realizadores de referência. Além disso procurámos programar concertos que já tinham como propósito esta componente, dando oportunidade ao público de usufruir dos mesmos. O mês escolhido para a realização do festival é propositado, numa altura em que se assinala o dia mundial da música, onde procurámos fugir aos eventos convencionais e dar-lhe um cunho próprio – neste caso, enaltecer a música através do cinema.
Como reagiram ilustres como Tó Trips, Norberto Lobo ou Noiserv ao desafio de compor bandas sonoras inéditas para filmes que, muito provavelmente, ainda não teriam visto?
Os músicos em questão são artistas receptivos a novas experiências, pelo que responderam prontamente ao desafio. Esse é o caminho que queremos desenvolver relativamente a edições futuras. A criação artística de base no território é uma das principais narrativas que queremos desencadear na área da cultura e o Film Fest é um dos primeiros sinais que estamos a desencadear. O Tó Trips, além de ter aceite o desafio de criar a banda sonora para o filme “Os Lobos”, de Rino Lupo, fez também a imagem genérica do festival, e apresentará no próximo dia 5 de Outubro, na Casa da Cultura, a exposição “ Eram os cartazes mais rápidos do mundo”. No caso do Noiserv não é uma estreia – o “Sherlock Jr.” de Buster Keaton foi apresentado pela primeira vez na edição deste ano do PlayFest. No entanto faz todo o sentido incluir este cine concerto no ciclo de programação do Film Fest, dedicado inteiramente às famílias e abrindo portas para a importância da formação de público desde os mais novos.
Um dos momentos mais aguardados é a exibição do filme italiano “Inferno”, baseado na obra “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, que terá música original do maestro Jorge Salgueiro, o acompanhamento musical ao vivo do Coro Setúbal Voz e a narração de Rui Sidónio, vocalista dos Bizarra Locomotiva. As expectativas serão cumpridas?
Será uma actuação inédita e pouco convencional em matéria de bandas sonoras tocadas ao vivo, neste caso cantada pelo Coro Setúbal Voz com cerca de 60 elementos e a narração (leitura dos intertítulos) a cargo do Rui Sidónio. Era para nós importante integrar um projecto artístico da cidade, daí o convite a este grupo liderado pelo maestro e compositor Jorge Salgueiro, que por si só é uma garantia. Esta será uma premissa para as próximas edições do festival dar a conhecer projectos criados a partir de agentes culturais da cidade, além das várias parcerias locais firmadas para a sua concretização.
A nível internacional, é também de Itália que chega o cine-concerto mais prometedor, onde ”Beautiful Things”, o filme que arrecadou o prémio de Melhor Filme Italiano na 74ª edição do Festival de Cinema de Veneza, será acompanhado ao vivo por quatro cantores e quatro violoncelistas. É este o cabeça-de-cartaz?
Este cine concerto surge do desafio lançado pela organização da Festa do Cinema Italiano para realizarmos, em parceria, uma apresentação inédita em Portugal, o qual, naturalmente aceitámos, sendo para nós motivo de orgulho receber nesta primeira edição um filme premiado num festival de referência. Para além de uma estreia em Portugal, será apresentado numa versão inédita musicada ao vivo pelos músicos Giorgio Ferrero (realizador e compositor), Rodolfo Mongitore (compositor), os violoncelistas Luisella Ghirello e Alessandro Malvasi e a cantora Roberta Cortese. Não podemos deixar de referir, também, a homenagem dedicada ao realizador maltês Cecil Satariano, que contará com a presença dos seus familiares, que se deslocam a Portugal propositalmente para assistir ao cine concerto, musicado por MODS Collective.
A par dos cine-concertos, há actividades paralelas como exposições, ateliês e workshops. O que se pode destacar aqui?
A exposição de cartazes originais do Tó Trips – “Eram os Cartazes Mais Rápidos do Mundo”, com inauguração agendada para 5 de Outubro na Casa da Cultura. A par disso realizam-se oficinas de cinema para famílias, enaltecendo mais uma vez a importância de desenvolver um programa dedicado, também, ele, a todas as idades. Decorrerá o atelier do Estúdio Math Is Good – Brinquedos Ópticos: Bruxas e Super-Heróis e Cinema, Imagens em Movimento e Cinema de Animação dirigidos por Renata Barreto. A 13 de Outubro decorre a palestra sobre o processo que envolve a composição de música original para filmes, desde da génese até à execução final. Abordando temáticas como os grandes compositores da música para filmes, ideias partilhadas que ajudaram a moldar uma arte que se distingue dos outros tipos de música, e a importância do som e da música na sétima arte com o convidado Aurélien Vieira Lino. Ao todo, serão exibidos 21 filmes (longas e curtas-metragens) em 12 sessões de cinema, divididos em 8 sessões para o público em geral, 1 sessões para escolas, 1 sessão para Pais e Filhos e 1 sessão de apresentação final dos workshops para as escolas do concelho, além da palestra e workshops já mencionados. Tudo isto durante 10 dias consecutivos em vários equipamentos culturais da cidade – Fórum Municipal Luísa Todi, Cinema Charlot, Casa da Cultura e 50 Cuts.
Este Film Fest tem pernas para andar no futuro, mesmo que isso implique um orçamento extra para a contratação de bandas sonoras inéditas para estrearem no festival?
Com a excepção da actuação do Noiserv e dos MODS Collective, que já tinham apresentado os cine concertos noutros eventos, as bandas sonoras desta 1ª edição do Film Fest são inéditas. Futuramente gostaríamos de contemplar também, à semelhança do “Beautiful Things”, pelo menos um cine concerto com a banda original do filme e a vinda do seu realizador ao Film Fest.
Relativamente ao cinema, Setúbal perdeu há alguns anos o seu grande emblema, o Festróia. Existe alguma possibilidade de um regresso, mesmo que num formato renovado? Por aqui sentimos falta da secção Independentes Americanos.
O Festival Internacional de Cinema-Festroia, sempre contou com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, mas a sua a organização era da responsabilidade da Associação Cultural Festroia, que aquando do seu término apresentou publicamente um comunicado justificando os seus motivos, alheios a este município. É de realçar que a autarquia mantém um protocolo de colaboração com esta associação relativamente à programação regular do Cinema Charlot e é uma das principais parceiras no Film Fest, à imagem, também da Associação Cinematográfica 50 Cuts.
O Cinema Charlot tem recebido extensões de festivais como a Festa de Cinema Italiano ou a Festa do Cinema Francês (esta a decorrer de 4 a 7 de Outubro no Cinema Charlot). Ainda podemos sonhar com uma mostra do que de melhor que passa pelo IndieLisboa ou pela Monstra?
A Câmara Municipal de Setúbal já desenvolve parcerias com o “Curtas Vila do Conde” e o “IndieLisboa”, além dos festivais mencionados na questão, e é nesse sentido que tem vindo a apostar fortemente nos protocolos de colaboração com festivais de renome na área do cinema. Estamos receptivos a receber mais propostas, sendo que pretendemos que Setúbal seja uma referência nestas áreas. É também de realçar a importância que o projecto Set ‘curtas desempenha da comunidade, essencialmente nas escolas.
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