“Operação Eye in the Sky” é, antes de mais, um thriller competente. O realizador sul-africano Gavin Hood trabalhou em parceria com Guy Hibbert, cujo argumento dá a conhecer as personagens através das atitudes em detrimento de diálogos arrastados. Pouco se sabe, aliás, sobre a vida pessoal de cada uma delas; o que importa aqui é gerir uma situação de vida ou de morte. Este drama permite-nos, por um lado, reflectir sobre as consequências éticas do recurso a drones em operações militares e, por outro, sobre a pretensa eficácia de um combate ao terrorismo cada vez mais cirúrgico, pretendendo reduzir ao mínimo o número de baixas.
Tudo gira em torno de uma missão destinada a capturar, ou possivelmente eliminar, os cabecilhas do grupo terrorista al-Shabaab, escondidos numa casa no centro de Nairobi, no Quénia. A acção desenrola-se em vários lugares, onde se encontram diversos decisores e operacionais: Helen Mirren é Katherine Powell, a Coronel que coordena a operação na base militar de Northwood, nos arredores de Londres; Aaron Paul – o célebre Jesse Pinkman de Breaking Bad – é Steve Watts, o piloto à distância do drone a ser comandado a partir do Nevada; Barkhad Abdi, nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário pelo papel que desempenhou em Captain Phillips, é o agente infiltrado no terreno; Alan Rickman – a cuja memória o filme é dedicado – é o Tenente-General Frank Benson, que enfrenta a indecisão política em Westminster. A questão que se coloca é muito simples: deverá um míssil ser lançado, impedindo o ataque terrorista que poderá causar a morte de 80 civis, ou será mais sensato esperar por uma outra ocasião, poupando a vida de uma criança que vende pão a escassos metros?
As implicações morais são evidentes e ninguém parece querer assumir o peso de uma decisão tão delicada. À excepção da Coronel Katherine Powell e do Tenente-General Frank Benson, que sabem tratar-se de uma oportunidade única – a investigação que permitiu descobrir os alvos demorou anos -, os restantes preferem remeter a deliberação para outras instâncias, como o Ministro dos Negócios Estrangeiros ou o Primeiro-Ministro britânico. Há carreiras e reputações em jogo e a indefinição arrasta-se até ao limite da caricatura; os danos colaterais são continuamente reavaliados, os telefonemas sucedem-se, os argumentos contra e a favor acumulam-se. E não são apenas os agentes políticos a revelar fragilidades e dúvidas de ordem moral: o piloto acaba por recorrer ao protocolo de forma a adiar o ataque, desafiando ordens superiores. Helen Mirren é aqui primorosa, num papel que mais facilmente veríamos atribuído a uma figura masculina; Mirren exerce o cargo sem tiques de autoritarismo e defende os seus pontos de vista com inteligência e capacidade de persuasão, tornando a personagem credível.
As hesitações contrastam com a postura do Secretário de Estado norte-americano, cujo jogo de pingue-pongue a decorrer na China é interrompido por causa desta celeuma; em poucas palavras, dá a entender que a autorização por parte de Washington era há muito uma garantia, pelo que não compreende o motivo por que foi incomodado. Assumindo uma expressão sarcástica, dá a entender que Londres é habitada por um cortejo de cobardes. Este jogo de pingue-pongue serve, aliás, como metáfora para a discussão que se alastra por diversos continentes, mantendo o espectador em suspenso quase até ao último instante. Até certo ponto, “Operação Eye in the” Sky acaba por prestar homenagem a Churchill, que não podia estar mais actual: “Na guerra, sucumbimos uma única vez; em política, é possível sucumbir com frequência.” Os clássicos perduram.
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