Não é por acaso que “Sarusuberi: Miss Hokusai” foi exibido a 8 de Março, no âmbito da competição de longas-metragens da Monstra | Festival de Animação de Lisboa . Fernando Galrito, organizador do festival, assegurou durante a apresentação que programar este filme de animação que segue, de forma episódica, a jovem artista O-Ei – e que por sua vez é baseado num mangá de Hinako Sugiura (artista e investigadora da sociedade e costumes do Japão do período Edo) -, coincidiu sem coincidência com o Dia Internacional da Mulher; que, pese a natureza polarizante, continua a ser relevante graças à cultura de privilégio masculino que ainda vivemos.
Conhecemo-lo pela obra, quiçá, mais reproduzida da história da arte japonesa: “A Grande Onda de Kanagawa”, que recebe um belo tributo visual durante o decorrer do filme, é de autoria Katsushika “Tetsuzo” Hokusai, um célebre mestre-pintor, conhecido pelo desleixe com que (não) aborda a sua vida pessoal. A filha, O-Ei, é a tal protagonista que sofre as consequências, não de um pai violento mas de um pai mais reservado que um túmulo, porém exigente no que diz respeito ao trabalho e arte que incute à filha.
Em mais uma aposta nipónica de qualidade, desta feita a Monstra traz-nos uma animação assinada pelos talentos dos estúdios Production I.G., muito embora obscurecida, no contexto do festival, por “Memórias de Marnie” (Studio Ghibli) que, na próxima sexta-feira, também em competição, se dará a conhecer ao público português. Contudo, comparações à parte, “Miss Hokusai” é um retrato místico com riqueza nos detalhes históricos do período Edo (sendo Edo também a Tóquio de 1814), onde o realizador Keiichi Hara (que começou a carreira com o nosso muito amado Doraemon) constrói uma narrativa a partir de um guião pouco convencional segundo “a norma ocidental” e que, embora seja reflexivo, nunca chega a ser complexo a nível temático – ou confuso.
A 16ª edição da Monstra – Festival de Animação de Lisboa decorre entre 3 a 13 de Março. Consulte toda a programação no site oficial.
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