“Maggie Tem Um Plano” (“Maggie’s Plan” no original) conta-nos a história de três personagens com três filhos – no total -, ao longo de três anos. Maggie (Greta Gerwig) desabafa com o velho amigo e ex-companheiro Tony (Bill Hader), queixando-se de não ser capaz de ter uma relação durante mais de seis meses. E embora sinta que não haverá mudanças a esse nível, está pronta para a maternidade. O plano até já está meticulosamente traçado: a inseminação artificial terá lugar a 23 de Março e o doador de esperma será Guy (Travis Fimmel), um antigo colega de escola e grande amante de Matemática, pese embora ganhe a vida a vender pickles.
Easier said than done: o destino prega-lhe uma partida a partir do momento em que se apaixona por John (Ethan Hawke), um professor recém-chegado a The New College, a faculdade onde Maggie também trabalha. Ela orienta estudantes de arte e design, servindo como elo entre a instituição de ensino e o mundo do trabalho; ele, por seu turno, dá aulas de antropologia, enquanto tenta desesperadamente escrever um romance. Além disso, é casado com uma colega muito bem-sucedida, cuja carreira parece ter prioridade sobre o bem-estar dos filhos de ambos: Georgette (Julianne Moore) é uma académica dinamarquesa de renome e fala inglês com um sotaque hilariante. Ainda por cima, tem uma personalidade egocêntrica e insuportável – pelo menos, John já não a suporta, uma vez que não revela qualquer interesse pelo seu projecto literário.
“Ela é maravilhosa – de certa forma, tem conseguido destruir a minha vida”, confessa John a Maggie pouco antes da noite decisiva: no preciso momento em que a inseminação estava prestes a avançar, eis que o par assume ter sido tomado de assalto por um coup de foudre. E é aqui que o inesperado acontece: três anos mais tarde, encontramos Maggie a desempenhar o papel de mãe bem mais do que gostaria, pois, para além de tomar conta da própria filha, Lily (Ida Rohatyn), ainda abdica de projectos profissionais por causa da prole de John. Ethan Hawke repete o perfil em que se tornou exímio: o de eterno adolescente, que precisa de uma figura feminina para se encontrar. Obcecado com a conclusão do romance, John deixa-se sustentar por Maggie, com quem entretanto se casou. O reverso da medalha é que Maggie, assoberbada de obrigações domésticas, começa a perder o encanto pelo companheiro.
Daí a necessidade de elaborar mais um plano: “devolver” John a Georgette através de uma conferência de antropologia a decorrer no Québec, onde ambos estarão presentes. E se dúvidas houvesse em relação ao talento de Moore, facilmente são dissipadas neste filme de Rebecca Miller: a excentricidade de Georgette é um dos pontos fortes desta comédia, já que provoca gargalhadas constantes. O seu ar deliciosamente inexpressivo e austero faz-nos lembrar o desempenho soberbo de Moore em “The Big Lebowski”, demonstrando que só uma actriz sem medo do ridículo é capaz de ir tão longe. Ao ponto de ofuscar Greta Gerwig, que não atinge o brilhantismo revelado em “Frances Ha”, onde a personagem de bailarina falhada cujo sonho é viver em Tribeca lhe assentou como uma luva.
Ainda assim, Gerwig é cativante e não deixa de prestar um serviço competente a mais esta comédia nova-iorquina. E que dizer do twist a que assistimos na cena final? Que a mensagem mais sábia de toda esta narrativa passa por nunca fazer planos rígidos, já que o encanto desta nossa fugaz existência se prende com o seu carácter imprevisível. Dito por outras palavras, e parafraseando Lennon, a vida é o que acontece enquanto fazemos outros planos.
Sem Comentários