Greta Gerwig, célebre sobretudo pelo seu desempenho em “Frances Ha”, já tinha colaborado com Noah Baumbach, o seu companheiro desde 2011, em diversos filmes. No entanto, “Lady Bird” marca a sua estreia como realizadora, tornando-se a quinta mulher a ser nomeada para um Oscar nessa categoria. Além disso, o seu trabalho foi ainda reconhecido pela Academia com nomeações para Melhor Filme e Melhor Argumento Original, conquistas absolutamente notáveis para uma estreante.
Gerwig revisita a sua adolescência nesta comédia semi-autobiográfica, prestando uma homenagem a Sacramento, a cidade onde nasceu. Saiorse Ronan é uma espécie de alter-ego, embora 15 anos mais nova do que a realizadora; é ela a “Lady Bird”, o nome que decidiu adoptar de modo a distanciar-se dos pais. Ao ponto de nem sequer responder quando ouve o nome verdadeiro, Christine – para grande irritação da mãe, Marion (Laurie Metcalf), com quem mantém um relacionamento difícil. Tornando o ambiente ainda mais tenso, Lady Bird teima em dizer que quer ir estudar para a Costa Leste, de preferência para Nova Iorque, julgando que só lá será possível aspirar a um convívio com pessoas cultas e sofisticadas.
Esta perspectiva dá origem a uma tremenda discórdia, já que, estando o pai desempregado, a mãe tem de fazer horas extra para conseguir pagar as contas. E, embora alimente o desejo de se mudar para um meio letrado, Lady Bird não demonstra ter um talento especial para coisa alguma – os resultados escolares são medíocres e até o papel que lhe é atribuído numa peça de teatro não contém falas. Contudo, a vontade de coleccionar experiências novas não lhe permite baixar os braços, envolvendo-se com Danny (Lucas Hedges, o “miúdo” de “Manchester by the Sea”), a estrela da companhia. Danny, porém, revela-se demasiado casto, provocando o primeiro desgosto amoroso. Nada que impeça a adolescente de avançar para um outro relacionamento, desta vez com Kyle (Timothée Chalamet), um músico com ar blasé. Até certo ponto, a história repete-se, e Lady Bird acaba por reconhecer que a melhor companhia ainda é a da melhor amiga, Julie (Beanie Feldstein), com quem se diverte à grande sempre que estão juntas.
No entanto, a relação mãe-filha é o aspecto central de toda esta história. Por vezes, sentimos que só seremos capazes de crescer quando seguirmos o nosso próprio caminho, algo com que muitos pais têm dificuldade em lidar. Marion depara-se com o fantasma do “ninho vazio”, não sabendo como enfrentar a situação – em especial na cena do aeroporto, uma das melhores do filme. Surpresa das surpresas, não é assim tão raro termos de abandonar a casa materna para percebermos que, afinal, são as origens que nos definem; quando Lady Bird consegue finalmente tirar a carta, passa a ver Sacramento com outros olhos – com olhos de adulta, já que a partida para a Costa Leste acelera o seu crescimento. Quando entra numa igreja nova-iorquina, reconcilia-se por fim com a sua educação católica, com a qual não se identificava. A separação encerra algumas vantagens – sendo a mais relevante de todas o reconhecimento da importância das nossas raízes.
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