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IndieLisboa 2022: o cinema sem-vergonha de Doris Wishman e uma viagem musical entre divas mainstream e lendas das pistas de dança

Por Deus Me Livro · Em 13/03/2022

Em 2022, entre os dias 28 de Abril e 8 de Maio, o IndieLisboa volta a ocupar as salas do Cinema São Jorge, Culturgest, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal. Uma edição que contará com uma retrospectiva da realizadora norte-americana Doris Wishman (1912-2002) e uma variada selecção de filmes no IndieMusic, sobre divas mainstream, heróis do underground ou lendas das pistas de dança.

“Depois de morrer, estarei a fazer filmes no inferno!“, afirmava a lendária realizadora norte-americana Doris Wishman (1912-2002), que chega este ano ao IndieLisboa.  Doris passou meio século na vanguarda da má reputação, tornando explícito com o seu cinema aquilo que não era permitido à imagem. Autodidacta, construiu sozinha a sua carreira, produzindo, realizando e montando a maior parte dos filmes que compõem a sua filmografia – e que serão apresentados em retrospectiva, nesta edição do Indie, em conjunto com a Cinemateca Portuguesa.

Nude on the Moon

Nude on the Moon

Doria estreou-se em 1960 e tornou-se pioneira da sexploitation feminina no cinema ao longo da década. Começou por produzir os chamados nudie cuties, dos quais se destaca “Nude on the Moon” (1961), uma longa-metragem de fantasia científica que leva dois astronautas a descobrir uma colónia de nudistas na lua.

Bad Girls Go To Hell

Bad Girls Go To Hell

O crescente desinteresse do público pelo estilo fez com que a cineasta mudasse o rumo do seu cinema e seguisse o caminho dos roughies, um sub-género popular à época que combinava desejo e violência – e que, em Wishman, acabou por denunciar um olhar sobre o que significa ser mulher. Com o frenético “Bad Girls Go to Hell” (1965), a sua obra-prima por excelência, hostilidade para com as mulheres e tentações pervertidas tornaram-se temas recorrentes. Audaciosamente eróticos e de carácter proto-feminista, fazem ainda parte da sua lista de filmes mais conhecidos os títulos “Deadly Weapons” (1974), “Double Agent 73” (1974), ou o semi-documentário “Let Me Die a Woman” (1978).

Afastou-se da indústria nos anos oitenta e a artista Peggy Ahwesh foi reencontrá-la em Miami, em 1994, a trabalhar numa sex shop. Uma “mulher obcecada com os temas do estatuto social e liberdade feminina, o drama contemporâneo do medo, desconfiança e o desafio entre os sexos“. É assim que Ahwesh descreve, na sua zine The Films of Doris Wishman – produzida pela primeira vez em 1995 -, o cinema daquela que, até à data, é a cineasta mulher com mais filmes realizados. Peggy Ahwesh irá estar em Lisboa, durante o festival, para acompanhar a retrospectiva que, este ano, mostra cinema só para adultos.

Quanto ao IndieMusic, está de volta com uma selecção de filmes que fazem a ponte entre a música e o cinema, e o espectro não podia ser mais vasto. Ha filmes sobre divas mainstream, heróis do underground ou lendas das pistas de dança.

POSTER_FINAL

A abrir a competição está “Cesária Évora”, de Ana Sofia Fonseca. Nome maior da morna, a diva cabo-verdiana é um exemplo de quem lutou toda a vida contra preconceitos. Através da cantora, o documentário cruza vários contextos sociais e políticos.

ATLANTA - JUNE 12: Singer-songwriter-poet Patti Smith appears live on WKLS-FM before opening for the Rolling Stones on June 12, 1978 in Atlanta, Georgia. (Photo by Tom Hill/WireImage)

ATLANTA – JUNE 12: Singer-songwriter-poet Patti Smith appears live on WKLS-FM before opening for the Rolling Stones on June 12, 1978 in Atlanta, Georgia. (Photo by Tom Hill/WireImage)

Do Mindelo para Nova Iorque: “Patti Smith, Electric Poet”, de Anne Cutaia & Sophie Peyrard. 50 anos de carreira, apenas um hit e zero vontade de jogar pelo seguro.

Ainda em Nova Iorque, “Songs For Drella”, performance de Lou Reed e John Cale captada em 1991 por Ed Lachman, que o Indie mostra em versão restaurada. O filme-concerto do duo ex-Velvet Underground acompanha o disco com o mesmo título, baseado numa série de peças inspiradas pelo mentor de ambos, Andy Warhol.

Mais jovem mas igualmente icónica, Courtney Barnett é o foco de “Anonymous Club”, a antítese de uma biografia rock de Danny Cohen. O filme mostra uma cantautora enigmática, uma reclusa a lidar com a aclamação do público.

“Nothing Compares”, Kathryn Ferguson

Em “Nothing Compares”, Kathryn Ferguson traça um paralelismo sobre a carreira de Sinéad O’Connor e o passado turbulento da Irlanda, onde nasceu, focado especialmente no período entre 1987, ano em que editou o seu disco de estreia, e 1992, quando rasgou uma fotografia do Papa João Paulo II em directo no SNL.

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“Rewind and Play”, de Alain Gomis, parte de uma entrevista de Thelonious Monk à televisão francesa em 1969, para mostrar um homem em luta constante, tanto contra os preconceitos como contra as expectativas construídas sobre a sua música e identidade.

Do palco para as pistas, “Italo Disco. The Sparkling Sound of the 80s”, de Alessandro Melazzini, leva-nos para a música de Sabrina e La Bionda e o imaginário muito particular do Italo Disco, com os seus ritmos 4/4 agressivos e sintetizadores eufóricos.

Na pista, mas num recanto mais escuro, “Laurent Garnier: Off the Record”, de Gabin Rivoire, traça a longa carreira do DJ/produtor francês, um dos maiores nomes da explosão house dos anos 90.

Mais recente mas não menos dançante, “Batida Apresenta: The Almost Perfect Dj”, de Pedro Coquenão, uma curta baseada na performance com o mesmo título. Ainda na música electrónica, mas agora numa toada muito mais experimental, os Telectu, de Vítor Rua e Jorge Lima Barreto, aterram no IndieMusic com “Sonosfera Telectu”, em estreia mundial e realizado por Vasco Bação, Ilda Teresa Castro e pelo próprio Vítor Rua. O filme acompanha, de forma imersiva, a vida na estrada do duo vanguardista, durante os anos 80 e 90.

“A Escuta”, de Inês Oliveira

“A Escuta”, de Inês Oliveira

Continuamos na música exploratória com “A Escuta”, de Inês Oliveira, também em estreia mundial, que acompanha um dos nomes mais importantes da música experimental portuguesa: o violinista Carlos Zingaro, que também actua no dia de exibição, na Culturgest.

"The Lost Record", de Alexandra Cabral & Ian Svenonius

“The Lost Record”, de Alexandra Cabral & Ian Svenonius

Na música experimental mas mais underground, Alexandra Cabral & Ian Svenonius, o antigo vocalista dos míticos The Make-up e Nation of Ulysses, exploram o cinema conceptual com “The Lost Record”. O filme pensa a ideia da obra de arte enquanto catalisador de mudança revolucionária e a capacidade que a obra tem de se tornar golem ou Frankenstein, algo que o próprio criador já não controla. Ainda no âmbito do IndieLisboa, a dupla actua no Musicbox com o projecto Escape-ism, a 6 de Maio.

Por fim, “Love, Deutschmarks and Death”, de Cem Kaya, documenta a desconhecida cena musical resultante da emigração turca para a Alemanha, perpetuada ainda pelos netos dessa primeira vaga de emigrantes.

Muita música para descobrir nesta série de filmes, que é o primeiro avanço desta secção. O júri desta edição é composto pelo radialista Ricardo Mariano, da Rádio SBSR, a artista visual e compositora Diana Policarpo e Francisca Salema – ou Sallim -, artista multidisciplinar que associamos à editora lisboeta Cafetra, com quem editou dois discos a solo.

Esta será a décima nona edição do IndieLisboa, que decorre de 28 de Abril a 8 de Maio. A playlist IndieMusic 2022 já está disponível no Spotify para abrir o apetite para o que aí vem.

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