O que aconteceria à nossa sociedade se o sistema em que vivemos colapsasse amanhã? Que princípios dominariam e se transformariam, então, no novo normal? Iríamos assistir de braços cruzados ao fim da Humanidade ou, pelo contrário, trataríamos de criar uma nova sociedade, menos industrial e mais sustentável? Estas são algumas das premissas e interrogações maiores sob as quais se desenvolve “O Colapso”, uma série francesa – “L`effondrement” no original – de oito episódios filmados em plano-sequência pelo colectivo Les Parasites, e que está agora disponível na plataforma Filmin Portugal (assista aqui).
Ao olharmos para alguns episódios recentes da vida em sociedade, o colapso parece já ter estado mais longe. Lembram-se da crise dos combustíveis, que gerou o pânico generalizado com filas de perder de vista e jerricans acumulados na garagem, na mala do carro nas dispensas? Ou, mais recentemente, do açambarcamento de papel higiénico e do esvaziamento de prateleiras do supermercado, antecipando um fim do mundo temporário?
Comparada por alguns a um Black Mirror com pronounce, “O Colapso” mostra-nos de forma exemplar a frágil e instável condição humana, assente num sistema capitalista extremo onde o poder, o dinheiro e o lucro dão todas as cartas, fechando os olhos a um fim do mundo que está à vista de todos mas que todos vão varrendo para debaixo do tapete – provavelmente tratando de garantir lugar numa ilha ou hotel espacial quando tudo isto der o berro, entre fome, secas, êxodos e mortes.
Tudo começa num supermercado, onde damos conta, através de um rapaz que lá trabalha e dos amigos que se abastecem como podem antes de se porem a milhas da capital francesa, da escassez de produtos mais ou menos essenciais à sobrevivência. Nesse primeiro embate e perante algo transformativo no pior dos sentidos, a questão colocada parece ser esta: seremos vencidos pelo medo quando tivermos de partir deixando tudo para trás? A bola de neve estende-se depois à falta de combustíveis e, daí até ao estado Titanic – ou da lei marcial à escala mundial – em que quem pode foge para uma ilha que não vem nos mapas é apenas uma questão de dias.
A história segue depois uma linha sequencial, indicando-se no início de cada episódio os dias que passaram desde o colapso, até chegarmos aos 170 dias do sétimo episódio. O grande final dá-se com um recuo na linha do tempo, onde entre previsões catastróficas, teorias da conspiração e programas da tarde percebemos como parece fácil esta sociedade entrar em colapso por estes dias.
A par da fragilidade do sistema, assente não apenas num liberalismo extremo e na formação de castas dominantes, focam-se temas como o poder da televisão e da desinformação, da desconfiança e da paranóia, dos movimentos terroristas, num mundo que parece querer levar a lei da oferta e da procura às últimas consequências – e onde os piores instintos vêm ao de cima. Mas há, também, um lado mais humano que sobrevive, e que deixa no ar a ideia de que é possível lutar por uma alternativa ao sistema actual. Preparem-se para o colapso.
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