Claudio Caligari faleceu, vítima de cancro, em Maio de 2015. Tinha 67 anos. Uma carreira no cinema que, ao longo das últimas três décadas, viu concretizar apenas três longas-metragens. “Non Essere Cattivo” (em inglês “Don’t Be Bad”), recebido com muito carinho pelo público da Festa do Cinema Italiano, foi a derradeira obra de Caligari, e há algo nela que faz transparecer a dificuldade imensa que é fazer cinema com falta de meios.
Concluiu o primeiro corte do filme antes de partir, e paira sobre este o legado do cineasta. Um orçamento curto dá lugar a rasgos de brilhantismo no aparato técnico, permite performances apoteóticas de Luca Marinelli (vimo-lo em “A Solidão dos Números Primos” ou “Lo Chiamavano Jeeg Robot”, este último fresco para os espectadores da Festa do Cinema Italiano) e Alessandro Borghi (que também é memorável em “Suburra” como “Número 8”), ao mesmo tempo que se sente algum desajeito na execução de ideias mais ambiciosas, que só vão até onde o dinheiro permite.
Uma história algo episódica, ou vá, de capítulos não demarcados, retrata o arco de dois amigos, “como irmãos”, mergulhados numa vida estéril de conptrabando, drogas (muita droga) e sexo, facultada pelo contexto social débil dos subúrbios de Roma – mais uma vez temos a zona costeira de Ostia como centro das atenções, desta feita nos 90. Em síntese, um escolherá uma vida de virtude, ou mal menor, sendo que o outro não saberá como domar a personalidade impulsiva que o leva a tomar decisões inconsequentes. A sinopse oficial aponta, e com razão, o espectro dos filmes de Pier Paolo Pasolini, mas também se sente muito “Mean Streets”, de Scorcese, ou “The Outsiders”, de Coppola, sem medo de assumir a influência desses magnatas do cinema moderno (Coppola hoje em dia nem tanto, mas os familiares que se vêm consagrando asseguram o bom nome, nepotismo à parte), alheios aos recursos disponíveis a Caligari.
Foi o filme escolhido para representar Itália na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira nos Óscares, mas sem sucesso e à volta de alguma polémica, sendo que haviam nomes mais sonantes, como o de Nanni Moretti. Terá sido, certamente, um tributo ao sucesso marginal de Caligari. Os italianos até se safam bem nessas andanças. Há um par de anos, “A Grande Beleza” de Paolo Sorrentino amealhou a cobiçada estatueta. Mas não há comparação possível entre o trabalho dos cineastas referidos. Em suma, dois têm muito público, o outro luta (ou lutou) para conseguir distribuição fora do país de origem.
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