Gregory Peck (La Jolla, 5 Abril 1916 — Los Angeles, 12 Junho 2003) foi um gigante, física e artisticamente falando. A sua altura – 1.90m – serviu como metáfora para a verticalidade que emprestou a alguns dos seus melhores papéis, como por exemplo o de Atticus Finch, o advogado que combate os preconceitos raciais no estado do Alabama, defendendo um homem negro acusado de violação em “To Kill a Mockingbird” (1962) – numa brilhante adaptação da obra homónima de Harper Lee.
Eleito o 12º actor mais importante da história do cinema pelo American Film Institute, Eldred Gregory Peck alcançou uma proeza apenas reservada aos grandes: protagonizar a maioria dos filmes em que participou entre os anos 1940 e 1980. Nasceu em La Jolla, na Califórnia, em Abril de 1916, e acabou por ser criado por uma avó, com quem ia ao cinema todas as semanas. Os pais divorciaram-se quando tinha cinco anos e o gosto pela representação fez-se notar desde cedo; embora tenha estudado Medicina na Universidade da Califórnia, em Berkeley, acabou por desistir da ideia de ser médico, licenciando-se em Literatura Inglesa. Em 1939, com 160 dólares no bolso, decidiu partir para Nova Iorque e inscreveu-se na prestigiada escola de teatro Neighborhood Playhouse, onde adoptou o nome que o tornou célebre. “Nunca gostei de ‘Eldred’; como ninguém me conhecia em Nova Iorque, foi fácil optar pelo meu segundo nome.”, recordou Peck alguns anos mais tarde.
Foi precisamente nesta escola que teve aulas de expressão corporal com Martha Graham; durante este período, alegou ter contraído uma lesão muscular nas costas, de tal forma grave que o impediu de combater na Segunda Guerra Mundial. No entanto, vestiu o papel de militar de forma primorosa em filmes como “The Guns of Navarone” (1961) ou [General Douglas] “MacArthur” (1977), imprimindo uma imagem de firmeza e rectidão moral que nunca o abandonou. Nas raras vezes em que interpretou o papel de vilão – como Capitão Ahab em “Moby Dick” (1956) ou o Nazi Josef Mengele no aclamado “The Boys from Brazil” (1978) -, acabou por não ser tão bem-sucedido, já que o público preferia vê-lo sob um retrato mais benigno, tão adequado à sua figura altiva.
Ainda assim, foi talvez nos westerns que a sua integridade mais se destacou: os mais atentos lembram-se da personagem dura e com ar descuidado de “Yellow Sky” (1948), ou do viúvo obcecado com a ideia de vingança, incessantemente em busca dos homens que violaram e mataram a sua mulher em “The Bravados” (1958). Alguns dos seus desempenhos como advogado também se tornaram lendários: revelou sinais de fragilidade moral em “The Paradine Case” (1947), de Alfred Hitchcock, uma vez que se apaixona por uma cliente de carácter duvidoso (belíssima Alida Valli); aceitou um papel secundário na versão moderna de “Cape Fear” (1991), realizada por Martin Scorsese, dando-se a conhecer às gerações mais novas como Lee Heller, um advogado obscuro; e, last but not least, é imprescindível recordar a figura central da sua carreira, Atticus Finch, que lhe garantiu o Oscar. Peck seria nomeado ainda mais quatro vezes pela Academia.
Não hesitou em apoiar causas em que acreditava, opondo-se abertamente à guerra do Vietname – pese embora sempre tenha apoiado o filho mais velho, Jonathan, um dos muitos combatentes. Peck casou-se duas vezes: a primeira em 1942, com Greta Konen Rice, uma cabeleireira finlandesa que conheceu durante a rodagem de um filme e com quem teve três filhos; a segunda em 1955, com Veronique Passani, que o entrevistou para a France Soir. Conta-se que quando o actor lhe telefonou alguns meses mais tarde, convidando-a para um encontro, a jornalista não pensou duas vezes: abandonou o filósofo Albert Schweitzer a meio de uma entrevista e correu para os braços da estrela de Hollywood. Sejamos honestos: qualquer mulher com um módico de bom senso compreende esta atitude.
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