“I am rooted, but I flow“. Frase de Virginia Woolf (As Ondas) que a filósofa Rosi Braidotti escolheu para dar início ao prólogo de “Metamorphoses“. Uma escolha que serve como epíteto para o programa temático que o Festival Internacional de Cinema e Literatura do Algarve – FICLA – dedica ao corpo feminino. Integrando um total de onze obras, o Ciclo Corpos – I am rooted, but I flow mostrará filmes de Agnès Varda, Chantal Akerman, Céline Sciamma e Lynne Ramsay, entre outras. A maioria dos filmes integrados nesta selecção será exibida ao ar livre nos claustros do Museu Municipal de Faro.
Uma selecção que parte da noção central da experiência, no sentido do lugar de enunciação destas realizadoras num certo período de tempo, e que quer ser um lugar para o surgimento de um novo leque de questões sobre o lugar primário que o corpo ocupa, enquanto espaço de inscrições sociais, políticas, culturais e geográficas. Concordando com Teresa de Lauretis, o cinema é uma tecnologia de género fundamental no nosso tempo. Trata-se de uma forma cultural capaz de reiterar manifestações legitimadas de identificação e subjetivação, interpelando-nos performaticamente. A autora reclama a necessidade de nos re-apropriarmos, subversivamente, dessas tecnologias, porque o que está em jogo não é só, como diria Preciado, a representação dos corpos senão a sua produção.
Integrados neste programa estão ainda as apresentações dos espetáculos MB#6 2008 e 2018 de M̶i̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville, assim como a apresentação do livro “O Pessoal é Político”, de Maria Gil e M̶i̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville.
A ter lugar entre os dias 2 e 11 de Junho, o FICLA decorrerá em Faro, propondo uma vasta programação de cinema, conversas, masterclasses e outras iniciativas que têm como objectivo olhar a relação entre a escrita e a sétima arte. Anunciada estava já a retrospectiva integral na obra da cineasta Trinh T. Minh-ha (ler aqui).
A edição 2022 do FICLA é co-produzida pela Câmara Municipal de Faro e ocupará o IPDJ Faro, o Museu Municipal de Faro, a Biblioteca Municipal de Faro António Ramos Rosa, o CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação /Universidade do Algarve, o DeVIR/CAPa – Centro de Artes Performativas do Algarve e a ARCM – Associação Recreativa e Cultural de Músicos e a Livraria localizada no jardim da Alameda.
O festival anunciará, nas próximas semanas, mais segmentos de programação. Mais informações aqui.
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