Portugal, França e Espanha são os países com maior representação cinematográfica na Competição Oficial da 27ª edição do Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela – CineEco. Este ano, o mais antigo festival de cinema ambiental do mundo recebe um número recorde de 93 filmes, de mais de 20 países, que poderão ser vistos entre 9 e 16 de Outubro na Casa Municipal da Cultura de Seia.
Os documentários em competição versam sobre temáticas multidisciplinares, como a atual situação climática, colonialismo tóxico, pandemia e outras doenças, a luta de comunidades pela defesa dos ecossistemas regionais, futuro sustentável, poluição marítima, justiça ambiental, entre outras abordagens. “O CineEco regressa este ano com uma Selecção Oficial pautada pela crescente qualidade dos filmes a concurso, alguns dos quais verdadeiras odes poéticas e visões dramáticas e cortantes da realidade, sempre com uma forte componente de consciencialização e de necessidade da busca por novas soluções e activismos, que possam garantir a perpetuação da nossa própria existência no futuro próximo”, enfatiza a direcção do CineEco Seia.
Na Competição Internacional de Longas-Metragens, uma das mais relevantes do CineEco, entram a concurso 11 documentários. Em “Une fois que tu sais” (na foto), de Emmanuel Cappellin, o realizador francês lança-nos uma pergunta inquietante: Como podemos seguir a nossa vida sabendo o que nos espera? Este documentário leva-nos a ‘bordo’ de uma odisseia transformadora, que toca no mais íntimo do nosso ser face à “inevitabilidade do nosso próprio declínio”.
Da Suíça chega “Ostrov – Lost Island“, de Svetlana Rodina, uma visão empática e comovente de uma família da ilha de Ostrov, no mar Cáspio, conhecido como o maior lago de água salgada do mundo, que sobrevive da caça ilegal.
Com expectativa é também aguardada a exibição do mais recente documentário do reconhecido fotógrafo, realizador e ativista ambiental, Yann Arthus-Bertrand. Depois do aclamado “Home” e do ensaio fotográfico “Earth From Above”, o realizador francês mostra no CineEco o seu filme mais pessoal em “Legacy, notre héritage“, um retrato vívido sobre as mudanças climáticas, o desenvolvimento sustentável e a preservação da biodiversidade.
“Living Water” do realizador e antropólogo Pavel Borecký, fala-nos de uma bomba-relógio ambiental e da história de luta entre beduínos, engenheiros e agricultores pelo “ouro azul”, num dos países mais pobres em termos de recursos de água, a Jordânia.
“Douce France” de Geoffrey Couanon, acompanha-nos na investigação inesperada de um grupo de jovens estudantes sobre um polémico parque de lazer, que ameaça as quintas perto das suas casas. Um relato apaixonado e vivo de jovens que ousam questionar.
A realizadora Venice de Castro Atienza traz ao CineEco “Last Days at Sea“, uma viagem pelo verão passado de Reyboy, um menino de 12 anos que mora numa pequena vila isolada de pescadores nas Filipinas. Um documentário sobre o tempo suspenso, no mar, aos olhos de uma criança que tem de ir viver para a cidade.
“The Last Hillbilly“, dos realizadores Diane Sara Bouzgarrou e Thomas Jenkoe, transporta-nos pelas vivências de uma família que vive no coração dos montes Apalaches. Com o encerramento das minas de carvão, ficam presos ao passado mítico de um mundo que desapareceu.
“Ophir“, de Alexandre Berman e Olivier Pollet, conta a história da revolução indígena em Bougainville pela defesa da sua cultura, vida e terra, numa das nações mais jovens do mundo, na Papua Nova Guiné.
Da realizadora russa Shasha Voronov chega “Mom, I Befriended Ghosts“, documentário sobre uma pequena cidade na Sibéria presa há meses numa quarentena, fruto de uma doença misteriosa provocada pela água que os habitantes bebem. Neste filme, a realizadora imagina a mudança das relações entre as pessoas e a natureza; algum paralelismo com o que temos vivenciado no último ano e meio de pandemia poderá ser, ou não, pura coincidência.
Do Canadá chega “Hell or Clean Water“, de Cody Westman, um filme sobre um ‘fazedor de mudança’, sobre a poluição marítima e uma luta desigual de um herói-mergulhador pouco provável de Newfoundland e Labrador.
“Arica” de Lars Edman e William Johansson Kalén, aborda um escândalo em grande escala sobre o ‘colonialismo tóxico’ de um gigante mineiro sueco, que chegou a despejar 20 mil toneladas de resíduos perigosos na cidade de Arica, no Norte do Chile, prejudicando a saúde dos seus habitantes. Este documentário relata a história dos sobreviventes que procuraram justiça ao longo de mais de 15 anos.
Na Competição Internacional Curtas-Metragens do CineEco concorrem 45 documentários de vários países, sendo 7 destes filmes produções nacionais, a saber: “Hope“, de Paulo Ferreira; “Mulher como árvore” (coprodução com Galiza, Espanha) de Alejandro Vázquez San Miguel, Carmen Tortosa, Daniela Cajías, Flávio Ferreira e Helder Faria; “#fishingtheplastic” de Marina Lobo; “Estrelinha do Geopark“, de Luís Augusto Fonseca de Araújo; “A última gota – Algarve“, da Almargem – Associação de Defesa do Património Ambiental e Cultural do Algarve; “Entre as abelhas e o pregado“, de Ana Linnea Lidegran Correia; e “Vale do Aurotni“, de Graça Gomes.
Este ano, o cinema ambiental em língua portuguesa volta também a estar em grande destaque na Competição Séries e Reportagens Televisivas que, à semelhança da edição passada, representa mais de metade das obras em competição nesta categoria específica. No total dos filmes em Competição na 27ª edição do CineEco, 39 são documentários portugueses produzidos em 2020 e 2021.
Os programadores deste ano voltam a ser Bruno Manique, ex-Presidente do Centro Portugal Film Commission, Rúben Sevivas, realizador, produtor, formador, actor e programador cultural, e Tiago Alves, jornalista, realizador, locutor de rádio e programador de cinema, apresentador do programa Cinemax na Antena 1 e RTP2. De ressalvar que o CineEco 2021 tem como padrinho oficial o apresentador Júlio Isidro e, como madrinha, a atriz Sofia Alves. O CineEco é membro fundador e faz parte da direção da Green Film Network, uma plataforma de 40 festivais de cinema ambiental. É organizado há 26 anos pelo Município de Seia e conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República e do Departamento de Ambiente das Nações Unidas.
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