“Europa” (na foto), de Haider Rashid, foi o grande vencedor do Prémio do Júri da 15ª Festa do Cinema Italiano. Premiado de forma unânime pelo júri – constituído por Pilar del Río, Salvador Sobral e Leonor Teles – o filme foi escolhido com a seguinte justificação por parte do júri: “É um filme do nosso tempo. Nesta época de solidariedade branca, o filme relembra-nos que devemos olhar também para tudo o resto que se passa no mundo. A imersão do filme faz-nos acompanhar de forma intensa e próxima a jornada desta personagem. A tensão presente em todos os momentos deixa antever as emoções sentidas por Kamal. É um filme necessário, onde o ser humano luta pela liberdade e convivência“.
Com estreia mundial na última Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, “Europa”, escrito e realizado pelo filho de um imigrante iraquiano e mãe italiana, fala-nos da experiência da migração. O realizador Haider Rashid elimina qualquer distância entre o espectador e o seu protagonista, lançando o espectador numa experiência imersiva: sente-se o calor, a fome, a fadiga e, acima de tudo, o terror. Os inimigos aparecem de repente diante dos seus olhos e dos nossos, e são inimigos sem identidade, corpos armados sem nomes. “Europa” é quase um filme mudo, excepto pelos sons da respiração ofegante do protagonista e pelos tiros que ocasionalmente perfuram o silêncio da floresta. Cinematograficamente, a experiência de “Europa” evoca filmes como o húngaro” O Filho de Saúl”: uma jornada de obstáculos através do inferno, que sentimos com todos os cinco sentidos.
Na secção da competição, o júri atribuiu ainda uma Menção Especial a “Lovely Boy“, de Francesco Lettieri, considerando o seguinte: “Em Lovely Boy, o papel representado pelo incrível Andrea Carpenzano leva-nos para um universo de apatia e desinteresse profundo de jovens que embargam as próprias vidas num movimento escapista e recorrente. Um retrato da actualidade, protagonizado por uma personagem magnética e apaixonante.
“L’arminuta“, de Giuseppe Bonito, venceu o Prémio do Público. O filme preferido do público desta edição da Festa do Cinema Italiano é baseado no romance best-seller de Donatella Di Pietrantonio, vencedor do Prémio Campiello. Giuseppe Bonito filma com elegância um coming-of-age na Itália rural dos anos 1970; sem sentimentalismos, mas as emoções são garantidas. O realizador sabe como transportar para o ecrã as sensibilidades feridas das personagens do romance homónimo, ironicamente trabalhando mais os olhares, os gestos e os silêncios do que as palavras. Cruzando habilmente duas esferas, o realizador de Manual de Sobrevivência para Pais constrói um retrato do clima social de uma Itália que, após o boom económico dos anos 1960, viajou a duas velocidades. É neste contexto que se desenvolve a história de L’arminuta, que se enraíza nessa realidade mas que também se estende a condições e constrangimentos que infelizmente existem no presente.
A Festa continua agora em várias cidades: dias 19, 20 e 26 de Abril, em Beja (Cine-Teatro Pax Julia), a 2 e 3 de Maio, em Aveiro (Teatro Aveirense), de 3 a 5 de Maio, nas Caldas Da Rainha (CCC – Centro Cultural de Congressos), 4, 11, 18 e 25 de Maio, em Almada (Auditório Fernando Lopes-Graça) e de 25 a 28 de Maio, em Lagos (Biblioteca Municipal de Lagos Júlio Dantas).
A Festa do Cinema Italiano é organizada pela Associação Il Sorpasso, com o apoio da Embaixada de Itália, do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa, da Câmara Municipal de Lisboa e da EGEAC. O patrocinador principal deste ano é a FIAT, contando ainda com os patrocínios da Tranquilidade, PLMJ, Luzzo, entre outros.
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