É certo que a importância e a credibilidade dos Oscars tem muito que se lhe diga, mas é indiscutível que é quase impossível passar-lhe ao lado. A cerimónia deste ano, que se realiza já na passagem deste domingo para segunda, será mais uma vez um evento global, onde os vencedores e vencidos serão tão importantes quanto os vestidos exibidos pelas estrelas na carpete vermelha e pela graça (ou falta dela) do anfitrião, que este ano será Chris Rock. Sobre isso não se pode opinar muito. Mas sobre os filmes, actores e realizadores nomeados há muito o que especular e, verdade seja dita, não parece que este seja um ano para grandes surpresas. Ora vejamos:
Melhor actor
Comecemos por aquele que será o grande momento da noite: o anúncio do vencedor da estatueta para melhor actor. O mundo (e a Internet em particular) está em suspenso, à espera que seja desta que Leonardo DiCaprio vença o Oscar. Depois de quatro nomeações (uma delas para actor secundário) e uma série de filmes de alto nível, DiCaprio tornou-se quase numa private joke – partilhada por muitos milhões – por ter ido sempre para casa de mãos a abanar.
À quinta, porém, deverá ser mesmo de vez. O que não deixa de ser curioso, já que DiCaprio ganhará aqui por aquele que será, quiçá, o seu papel menos merecido. Independentemente dos méritos de “The Revenant” e do compromisso de DiCaprio para com o papel (comeu carne de búfalo crua, aprendeu línguas mortas e dormiu na carcaça de um animal, diz-se), o que é certo é que passa a maior parte do tema em estado comatoso, a fugir, a gemer e/ou todos os estados anteriores ao mesmo tempo.
Então porque deverá ganhar? Por todo o movimento que se foi criando em seu redor, mas também pela concorrência fraca. Eddie Redmanyne seria aquele que mais chances teria, com o seu papel de transexual em “The Danish Girl”, mas a sua prestação é só um acumular de maneirismo tirados a papel químico do seu Stephen Hawking do ano passado. Matt Damon, Michael Fassbender e Bryan Cranston só estão lá a fazer número.
Melhor actriz
No mundo do universo feminino, parece que não há muito a dizer. Brie Larson parte como favorita e não deverá deixar escapar o Oscar. Apesar de ser uma jovem quase desconhecida, Brie tem vindo a coleccionar elogios e prémios pela sua prestação no trágico “Room”. E toda a gente sabe o quão a Academia gosta de premiar dramalhões.
A sua maior concorrente poderá ser outra jovem, Saoirse Ronan, por “Brooklyn”. Cate Blanchett já venceu há pouco tempo, Charlotte Rampling recebe aqui uma espécie de prémio carreira e Jennifer Lawrence está lá a fazer a vez de Meryl Streep. Como esta não foi nomeada este ano (como não?), Jennifer Lawrence aproveita para começar a seguir-lhe os passos de ser nomeada todos os anos.
Melhor realizador
É a categoria mais concorrida este ano. George Miller começou na frente da lista dos favoritos, entrando a todo o gás -tal como o seu novo “Mad Max”, cheio de octanas a mais no sangue. No entanto, o ímpeto foi-se perdendo ao longo da corrida. Adam McKay fez o percurso inverso, subindo aos poucos, mas é Alejandro Iñarritu quem deverá ganhar. Mesmo tendo vencido o ano passado (e justamente, diga-se), o mexicano é um queridinho da Academia e o seu “The Revenant” é o campeão de nomeações neste ano. O único que parece poder fazer-lhe frente é Tom McCarthy, cujo filme “Spotlight” é mais conservador e tem feito um interessante percurso junto da crítica e do público. Lenny Abrahamson deverá ir lá só ver a bola…
Melhor filme
Ninguém acredita que “The Revenant” não ganhe o Oscar de melhor filme este ano, mas é aqui que poderemos assistir à grande surpresa de 2016. Isto porque “Spotlight” é um filme mais conservador, com um tema pertinente e importante, o que tanto agrada à Academia. E se Iñarritu, que já ganhou o ano passado, vencer a estatueta para melhor realizador, então pode-se estar já a esticar a corda. Por fora corre ainda “The Big Short”. No entanto é “Room”, o outsider deste ano, quem mais mereceria o prémio.
Outros
Nas restantes categorias, Sylvester Stallone deverá levar para casa o Oscar para melhor actor secundário, dando uma chapada de luva branca a uma série de gente. Quanto às actrizes secundárias, a corrida será entre Kate Winslet e Alicia Vikander, com ligeira vantagem desta última – se bem que a luta deveria ser feita entre Rooney Mara e Jennifer Jason Leigh. Por falar em “The Hateful Eight”, o novo filme de Tarantino – o grande ausente das nomeações deste ano -, só deverá levar para casa o Óscar para melhor banda-sonora, pela partitura do mítico Ennio Moricone. Quentin Tarantino foi altamente roubado ao não ter uma nomeação para melhor argumento original, prémio que deverá ser ganho facilmente por “Spotlight”. No campo do argumento adaptado, “The Big Short” sairá por cima da luta com “Room”. Nas animações, a Pixar será o vencedor claro, até porque “Inside Out” é o seu melhor filme dos últimos tempos, enquanto que, nos documentários, a luta será entre cantoras: ou o filme sobre Amy Winehouse ou sobre Nina Simone. Finalmente, nos filmes estrangeiros, a Hungria deverá ser a última a sorrir com “Son of Saul”, até porque “Mustang” (e todos os outros nomeados) é demasiado esquemático (leia-se fraquinho).
Depois, a grande questão da noite será: aparecerá Manoel de Oliveira no segmento dedicado às personalidades do cinema desaparecidas no último ano? Daqui a algumas horas veremos.
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