Quem se deixou deslumbrar pela Idade da Inocência e pelas desventuras da condessa Olensko na alta sociedade americana do início do séc. XX encontrará, nestes contos de Edith Wharton, algumas semelhanças, não só no perfil de algumas personagens femininas – a mulher que se desvia do padrão vigente e que é rejeitada pela sociedade – como nos cenários – o assombroso jantar entre Warley e Mrs Jaspar (no conto Segundo Holbein) traz de volta o memorável baile dos Beaufort (Idade da Inocência), em que Ellen atravessa, destemidamente, o salão para falar com Archer.
A própria Edith, que ganhou o Prémio Pulitzer com “A Idade da Inocência” (1920) – o primeiro concedido a uma mulher – não se enquadrava nos parâmetros da época, com a sua paixão pelos livros e um casamento de que optou por se distanciar, refugiando-se no mundo literário de Paris.
Em “Cinco Histórias de Luz e de Sombra” (Sistema Solar, 2014), os protagonistas americanos confrontam-se com os fantasmas, mais ou menos corpóreos, do velho mundo europeu: A sineta da criada de quarto é a história de uma criada que, após ter tido febre tifóide, apenas consegue colocação numa casa de campo onde vislumbra, entre portas, o fantasma da sua antecessora; Confissão é uma história de amor que resiste a desvendar um terrível segredo; Mais tarde retoma o tema dos fantasmas mas, desta vez, com forte pendor vingativo; Segundo Holbein é o regresso às origens, mais propriamente à Idade da Inocência, onde o personagem principal se passeia pelas melhores salas de Nova Iorque, numa espiral crescente de eventos sociais que acaba por engolir a própria noção da realidade; Uma garrafa de Perrier decorreno ambiente claustrofóbico no deserto, em que o jovem Medford procura desvendar o paradeiro do misterioso Almodham.
Mais sombria do que luminosa, a leitura destes contos é um convite absolutamente a não declinar.
Sem Comentários