“Bicicleta à Chuva” | Margarida Fonseca Santos

Circunstâncias do situacionismo actual fizeram com que a sociedade começasse a mostrar-se menos indiferente à problemática do bullying nas faixas etárias mais jovens. Através da imprensa falada ou escrita, não é raro assistirmos a relatos reais de crianças que sofrem diariamente na escola, ou locais envolventes, a dor da afirmação física de outras crianças a quem a vida nem sempre sorriu.

Margarida Fonseca Santos escreve há muito para um público juvenil, trazendo-nos agora, através da Booksmile, “Bicicleta à chuva”, uma história que se debruça sobre o quotidiano de Jaime, um rapaz mal-arranjado que tem de se habituar à convivência com os arruaceiros Alcaides – o grupo do desafortunado Valdomiro – e às marcas que isso lhe deixa no corpo, ao mesmo tempo que lhe tolda o raciocínio e o prazer que podia retirar de tudo o resto. A isto, é necessário acrescentar a vergonha que Jaime sofria por ser vítima de maus-tratos por parte de outros rapazes, e a sua incapacidade em partilhar o pesado fardo que tinha de carregar sozinho.

De leitura rápida mas inquietante, verificamos com o avançar da trama que Jaime não está só, sendo auxiliado por Joaquim, um rapaz que enquanto enfrentava dores de crescimento também maltratou outros miúdos semelhantes a Jaime. Foi ao saber que Jaime era alvo da ira e do escárnio do gang dos Alcaides que Joaquim o consegue ajudar a salvar-se através de um pacto que realiza com estes miúdos para quem a violência, mais do que uma demonstração de força, é uma forma de vida. Filhos de pais irresponsáveis, marginalizados pela sociedade e a quem as oportunidades da vida já tinham avisado que não iriam chegar. É este o triunfo da autora: dissecar sem rodeios as origens da violência de miúdos marginalizados pela sociedade.