Se ainda não se sentem verdadeiramente imbuídos no espírito natalício, este é o livro que devem agarrar. “Um Cântico de Natal” (Clube do Autor, 2015), de Charles Dickens, é sem dúvida um dos mais lidos e mais amados clássicos da literatura, que poucos não conhecerão. Nesta nova edição, inserida na colecção Os Livros da Minha Vida, José Luís Peixoto escreve no prefácio que “a própria vivência do Natal foi tocada por estas páginas”.
Ebenezer Scrooge é um homem avarento, egoísta e amargo, que odeia o Natal, vivendo exclusivamente para os negócios. Se fosse ele a mandar, “qualquer imbecil que aparecesse com essa ladainha do «Feliz Natal» nos lábios iria parar ao lume com o seu próprio pudim e seria sepultado com um ramo de azevinho espetado no coração”. Porém, na véspera da quadra festiva, o ganancioso Scrooge é assaltado pela presença do seu ex-sócio, morto há sete anos, que o alerta para a visita de três fantasmas que o farão compreender o verdadeiro espírito natalício. Mostrando-lhe como era o seu Natal no Passado, o que está a perder por não comemorá-lo no Presente e como será no Futuro (caso a sua atitude se mantenha), os três Espíritos do Natal – Passado, Presente e Futuro – irão ensinar-lhe uma valiosa lição.
Este é um conto belíssimo que, apesar de curto, demonstra uma grandeza extraordinária, apelando fortemente à nossa sensibilidade. A viagem pelo que há de mais profundo na alma de Scrooge leva-nos a pôr as nossas próprias acções em perspectiva e a questionar-nos: “O que pensarão de nós quando chegar o nosso último dia? Nessa hora, que avaliação será feita da nossa vida?” (José Luís Peixoto, no prefácio).
Com uma escrita envolvente, que muitas vezes é dirigida directamente ao leitor, Dickens oferece descrições absolutamente maravilhosas, capazes de nos transportar para as vivências das personagens e de nos fazer sentir os sons, sabores e odores próprios desta época, tornando-nos também protagonistas.
Apesar de se passar no Natal, altura em que a veia sentimentalista pulsa à flor da pele, este conto carrega uma mensagem intemporal: vamos sempre a tempo de nos tornar melhores. O altruísmo, a consciência social, a solidariedade e a generosidade são valores que devemos vestir todos os dias do ano. Não deixemos que o consumismo e a frieza do capitalismo apaguem o incomparável calor de uma família reunida à mesa em noite de Consoada. Como relembra José Luís Peixoto, “aquilo que mais importa é a solidez das relações”. A verdadeira felicidade vem das coisas mais simples da vida.
“Um Cântico de Natal” é um livro que marca, que permanece connosco mesmo depois do folhear da última página. Scrooge é o “protagonista anti-herói”, que não chegamos a odiar e terminamos a aplaudir. Que todos percebamos a verdadeira essência natalícia e, numa onda positiva de esperança na mudança, possamos entoar em coro: “Honrarei o Natal do fundo do coração e celebrá-lo-ei todo o ano”.
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