The Airborne Toxic Event: “Dope Machines”
O regresso de uma banda carismática com um disco que oscila loucamente entre o puritanismo electro-pop e a vocação épica. De tal forma que, em certos momentos, como em “California”, parece que alguém convenceu o Bruce Springsteen a embebedar-se com os New Order. E, por esquizofrénica que pareça a mistura, a verdade é que resulta (dores de cabeça incluídas).
The Wombats: “Glitterbug”
A bombástica banda de Liverpool lançou o seu terceiro disco depois de 4 anos em silêncio. Não é um trabalho para seduzir à primeira audição, como costumam ser as opus dos Wombats, mas não desilude nem um bocadinho só, se insistirmos. Apesar de fazer ecossistema no arriscado trapézio que divide a pop que toca num centro comercial da que tem valor para o Royal Concert Hall, a banda liderada pelo insofismável Mathew Murphy tem uma centelha de génio que é difícil de negar.
Balthazar: “Thin Walls”
Apostando muito na solidez – e na lucidez – de uma linha de percussão irrepreensível, os belgas Balthazar são uma banda para levar a sério. Em “Thin Walls” há uma nostalgia diletante e encantadora, de balanço irresistível. É verdade que, às vezes, soam demasiado a “Cousteau” para serem completamente originais, mas a vocação operática e o apuro orquestral suplantam o decaimento para a balada e o resultado final é um disco adulto, harmonioso e sensível.
British India: “Nothing Touches Me”
Conseguindo desencantar dos pulmões inflamados das suas guitarras eléctricas dois ou três dos mais poderosos temas rock do ano de 2015, os australianos British India oferecem à audiência, neste quinto trabalho de estúdio desde 2004, um delicioso manifesto pela libertação das almas. É verdade que se trata de um trabalho para consumo imediato, que não vai durar sobre as eras. Mas enquanto estivermos na companhia dos riffs feiticeiros destes rapazes, não cairemos certamente na melancolia. E, também, caramba, nem tudo o que é bom tem que ser um clássico.
San Cisco: “Gracetown”
Esta é uma banda que desafia a sanidade de qualquer crítico. Assumindo o risco de fazer música de dança num registo que é, muitas vezes, acústico; desenvolvendo uma estética que se estranha mais do que se entranha e procurando por todos os meios possíveis e imagináveis inquietar os tornozelos de quem os ouve, os San Cisco chegam ao seu segundo disco de originais com um fôlego tremendo e sem medo de ninguém. Podemos amar, podemos odiar, mas ninguém vai ficar com os tímpanos inertes por causa de “Gracetown”, um disco verdadeiramente brilhante, e brilhante na acepção epilética da palavra. Mais uma banda australiana com veemência criativa no ano de 2015.
The Charlatans: “Modern Nature”
Quando o Indie rock foi inventado, os Charlatans estavam lá, na confusão. A diferença entre eles e os outros que lá estavam, em Manchester, no fim dos anos 80, é que em 2015 ainda são capazes de fazer isto: um disco muitíssimo competente. Não, não traz nada de novo. Não, não se desvia um milímetro do Pantaleão melódico do rock independente britânico. Mas é um trabalho elaborado, sério (ao mesmo tempo que é bem disposto), consistente e surpreendentemente despretensioso. Os Charlatans não querem impressionar ninguém. Querem fazer música, ponto. Abençoados sejam por isso.
Low and Behold: “Uppers”
Esta é uma daquelas bandas enigmáticas, que nascem como cogumelos, não se sabe bem como ou porquê, do underground britânico. Sorumbáticos, altissonantes e com saudades de Ian Curtis (Há muito de Joy Division no palco sonoro da banda), os Low and Behold bombam que se fartam. Este “Uppers” tem aquela sonoridade épica e grandiloquente que parece dar mais cavalos à velocidade da vida. É uma coisa realmente grave e, dir-se-ia, transcendente. Um momento incontornável no espectro acústico de 2015.
We Are Bodies: “We are Bodies”
Dois amigos, Dave Pen (Birdpen e Archive) e Robin Foster, juntaram as suas sensibilidades para concretizarem este projecto e o resultado é solene e apocalíptico. O resultado é pura e simplesmente brutal. Um conjunto coerente de grandes temas rock que talvez possa ter qualquer coisa a ver com Editors ou Interpol, mas que sai livre para um espaço de originalidade que é assinalável. Segundo o próprio Dave Pen, as canções foram escritas ao sabor situacionista do improviso: “some were written drinking grog, some were written in an abandoned church, some were written in the car and some were written looking at bats from the top window of Robins Studio.” Mas não se nota nada. O disco é rigoroso e competente, próprio de dois músicos experientes e, apesar da informalidade que originou o trabalho de estúdio, está tudo no seu devido lugar, graças a deus. Se não fosse este disco, Dave Pen estaria ainda assim na lista dos melhores de 2015, com o último trabalho dos BirdPen, que também é excelente. Mas este “We Are Bodies” é capaz de ser melhorzinho.
Life In Film: “Here It Comes”
Mais um cogumelo extemporâneo da indie britânica, os Life In Film são uma espécie de Vampire Weekend depois de uma injecção de esteróides. Enérgicos, gritantes, céleres, mas extremamente preocupados com as linhas melódicas das suas cantigas, estes rapazinhos que agora lançaram o seu primeiro trabalho são capazes de dar que falar, mais à frente, no percurso caótico do pop-rock da segunda década deste século. Há momentos verdadeiramente inspirados neste disco, mas o que mais impressiona é a consistência. Não há aqui um tema a mais ou a menos. Está tudo muito bem trabalhado, muito bem escrito, muito bem interpretado. Um álbum inteiro e adulto, de uma banda que nasceu agora.
Peter Gregson: “A Little Chaos (Original Score)”
O filme é, na verdade, pouco mais que sofrível, mas só pelo trabalho inspirado de Peter Gregson a coisa já valeu a pena. O autor abandonou momentaneamente as suas deambulações pela composição atónica e experimental para escrever este original score que é uma verdadeira pérola da música contemporânea. Se é possível ter uma peça barroca em registo minimal e repetitivo, esta é essa suprema possibilidade. Bach e Steve Reich numa melodia apenas. E nem é preciso dizer mais nada.
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