Há quem diga, recorrendo a alguma dose de sarcasmo, que o jazz é o único género musical em que os músicos se divertem mais do que o público. Um pensamento que acaba por resumir a primeira parte do concerto de Kiamos no Lisboa ao Vivo (LAV), entregue a Ben Lukas Boysen. Um sunset fora de horas que nunca chegou bem a arrancar, mas que serviu de treino à lotada pista de dança que aguardava pelo compositor islandês Ólafur Arnalds e pelo músico feroês Janus Rasmussen, dupla que está de regresso aos palcos após uma pausa de mais de cinco anos.
Num cenário que poderia ser uma homenagem ao Kubrickiano “2001: Odisseia no Espaço”, com um obelisco que teria assentado ainda melhor numa floresta em noite de lua cheia, os Kiasmos chegaram ao LAV com uma nova rodela – “II”, lançada em 2024 -, servindo uma música electrónica feita de combustão lenta e virada para a introspecção na pista de dança, numa fusão com muita classe entre o frenesim electrónico e o aprumo clássico.
Em fundo, imagens de cascas de troncos de árvore, poços de lava, chuvas de estrelas e desertos de areia vermelha iam criando ambiente, enquanto Rasmussen dava ares de metaleiro e Arnalds preferia uma pose mais discreta, pegando a espaços no microfone para dar conta da sua felicidade em mais um regresso a Portugal.
O melhor ficou mesmo guardado para o encore, momento em que Ólafur Arnalds criou a atmosfera nas teclas antes de Janus Rasmussen engrenar a sexta velocidade em “Bent”, fechando a noite em modo Ibiza – só que em bom. Que a próxima visita possa acontecer sem um tecto sobre as nossas cabeças.
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Promotora: Uguru
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